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Introdução
No atual contexto social, percebemos que as Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) estão provocando profundas transformações em todas as dimensões da nossa vida. Essas tecnologias possibilitam aos indivíduos novas formas de se relacionar com o mundo, de se comunicar, de pensar, de aprender, de partilhar informações e construir conhecimento. No entanto, faz-se necessário que os sujeitos se apropriem das TIC para dar-lhes novos significados e sentidos. De acordo com Kenski (2003), a evolução das tecnologias não se restringe aos novos usos de equipamentos e/ou produtos, mas aos comportamentos dos indivíduos que interferem, repercutem na sociedade, intermediados, ou não, pelos equipamentos.
Diante disso, percebe-se que ao mesmo tempo em que as TIC proporcionam o acesso sobre variadas fontes de informações, elas exigem que os indivíduos tenham habilidade e conhecimentos para usá-las.
Assim, evidenciamos alguns projetos e programas do governo que buscam levar o acesso das TIC às classes menos favorecidas. Essas iniciativas se constituem em Políticas Públicas e visam à inclusão digital dos envolvidos.
Ao tratarmos do termo inclusão digital, percebemos que o mesmo está enredado em vários conceitos e significados, tanto pelos envolvidos do processo, quanto pelas ações que se relacionam a ele. Para Costa (2004)
o termo “inclusão digital” pode abarcar uma série de significados, seguindo dos estudos na área da psicologia (como o “e-nóia” – a inclusão dos que se sentem bloqueados, mas têm renda para o acesso e aprendizado) até os estudos nas áreas sociais. Em linhas
gerais entende-se inclusão digital como uma forma de apoio aos cidadãos numa nova perspectiva, a do cidadão de uma cidade na era da informação – de uma cibercidade. Essa inclusão deve ser de forma integral na vida deste cidadão, buscando preferencialmente as
populações que têm menores condições sócio-econômicas. A inserção digital não deve ser apenas uma capacitação num determinado software, e sim um processo amplo, levando em consideração questões mais importantes socialmente. O acesso apenas não basta, um computador pessoal não basta, a Internet – por si só, não basta. Deve haver projetos de inserção levando-se em conta a capacitação e a apropriação dos meios. (COSTA, 2004, p. 2-3).
Nos últimos anos o termo “inclusão digital” tornou-se algo freqüente em empresas, políticas governamentais e na sociedade civil. São muitas as estratégias que buscam promover o acesso das classes menos favorecidas às Tecnologias da Informação e da Comunicação. Para Barros (2003), a democratização do conhecimento, o principal elemento da ‘sociedade da informação’, constitui uma forma de combate às desigualdades sociais.
No que tange a “sociedade da informação”, é importante pontuarmos que o termo “inclusão digital”, aqui no Brasil, emergiu a partir dos Programas da Sociedade da Informação. O que regulamentou a inserção do Brasil nesse contexto foi o lançamento em 2000 do Programa Sociedade da Informação (SocInfo? ), conhecido também como Livro Verde. Segundo Carvalho (2006), esse livro
O Livro Verde é um documento que reúne as diretrizes do Programa Sociedade da Informação com o intuito de acelerar, fomentar e pensar a “Sociedade da Informação”. Sua coordenação esteve a cargo do Ministério da Ciência e Tecnologia e a sua elaboração e implantação foi realizada por representantes do governo, acadêmicos, empresários, lideranças comunitárias entre outros profissionais. O objetivo do Livro Verde é promover a inclusão digital das classes menos favorecidas através das TIC.
Nesse contexto, diante de um universo marcado pelas Tecnologias da Informação e da Comunicação, é importante destacar o desafio do uso de tais tecnologias nas escolas. È de fundamental importância a compreensão dessas tecnologias desde a sua construção até as suas diversas potencialidades, sendo a escola uma instituição historicamente reconhecida como a “principal propulsora do conhecimento”, cabe a ela proporcionar aos alunos meios para que estes transformem as informações adquiridas em conhecimentos. O Livro Verde do Programa Sociedade da Informação no Brasil reforça essa questão:
Na nova economia não basta dispor de uma infra-estrutura moderna de comunicação; é preciso competência para transformar informação em conhecimento. É a educação o elemento-chave para a construção de uma sociedade da informação e condição essencial para que as pessoas e organizações estejam aptas a lidar com o novo, a criar e, assim, a garantir seu espaço de liberdade e autonomia (BRASIL, 2000, p.7).
Para que os educandos tenham acesso à construção do conhecimento a partir das Tecnologias da Informação e da Comunicação, é importante a criação de meios que incentivem a aprendizagem partindo do interesse de cada um e ao mesmo tempo viabilizando a aprendizagem coletiva. De acordo com Lévy (1993), com o surgimento das TIC, é possível criar um novo e amplo espaço de possibilidades para a Educação. Nesse sentido, para que aja uma melhor articulação das escolas com as TIC, faz-se necessário transformar o sistema escolar. A introdução de computadores nas escolas possibilita mudanças significativas no âmbito educacional. O uso desses aparelhos no processo ensino-aprendizagem favorece a exploração ilimitada de ações pedagógicas, permitindo uma grande diversidade de atividades que alunos e professores podem realizar. Porém, a “incorporação” de computadores na sala de aula vai muito, além disso. A utilização dessas máquinas na escola favorece a criação de redes individuais de significados, inteligência coletiva, produção colaborativa, interação, comunidades virtuais, além de possibilitar o desenvolvimento humano, social, cultural e educacional do indivíduo.
É nesse contexto que surge o Programa Um Computador por Aluno (UCA). O referido programa é uma iniciativa do Governo Federal que busca incluir digitalmente crianças e jovens em idade escolar, do Ensino Fundamental e Médio, contemplando cada aluno com um computador portátil.
A experiência com o UCA vem sendo desenvolvida desde 2005, mas ainda encontra-se na fase pré-piloto. O projeto conta com o apoio de sete Ministérios, três centros de pesquisa, universidades de várias partes do Brasil e com um grupo de trabalho do Ministério da Educação que se divide entre os responsáveis por assessorar pedagogicamente e elaborar um documento básico sobre o programa, e assessores pedagógicos que possuem o dever de acompanhar e avaliar as experiências dos pilotos implantadas nas escolas.
De acordo com Lacerda (2007), o UCA está com projetos pilotos em cinco escolas de quatro estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e Tocantins e no Distrito Federal - Brasília. Foram distribuídos três modelos de laptops, mas cada escola recebeu apenas um modelo: Classmate Intel, XO - OLPC (One Laptop Per Child) ou Móbilis Encore. Ainda, segundo Lacerda (2007), o conceito de inclusão digital que permeia o projeto é o de permitir a cada aluno de escolas públicas o acesso ao uso das tecnologias através de laptops, possibilitando o uso pela família de cada aluno e também o acesso a serviços do governo eletrônico disponíveis on line. Porém, sabemos que o conceito de inclusão digital vai muito além disso. É necessário que deixemos claro que o conceito de inclusão digital ultrapassa esse conceito limitante.
Analisando a metodologia do programa, percebemos que ela é realizada de forma diferenciada entre as escolas participantes. Mas o que nos chama a atenção é a forma de como o computador portátil vem sendo empregado em algumas atividades pedagógicas dentro das salas de aulas. O que vemos é o uso da máquina apenas como ferramenta, numa perspectiva tecnicista, sem explorar as reais potencialidades dos computadores. Como exemplo disso, podemos destacar a atividade realizada pela professora Tânia de Castro Oliveira, da 4ª série, da Escola Luciana de Abreu (RS). De acordo com Araújo (2008), os alunos dessa professora desenharam o sistema solar e o novo astro, utilizando conhecimentos de Arte e Geometria, pesquisaram a composição de gases do Sol, da Lua e de alguns planetas em Ciências e simularam quanto seria gasto para levar alguns equipamentos básicos de sobrevivência para lá. Para Pretto (1999), o professor enxerga o computador como mais um recurso pedagógico, que vai auxiliá-lo nas suas aulas, é usá-lo apenas de forma instrumental. Daí surgem algumas inquietações oriundas do uso que os professores e alunos fazem dessa máquina e das potencialidades do computador portátil para a inclusão digital nas escolas.
È partindo dessa realidade, que buscamos desenvolver esse estudo monográfico. O tema desse trabalho foi escolhido a partir dos estudos realizados, durante a Pesquisa de Iniciação Científica (PIBIC) “Inclusão Digital na Escola: as políticas do MEC”, financiada pelo CNPq e orientada pela professora Maria Helena Silveira Bonilla. Ao longo dos estudos relacionados à temática de inclusão digital, onde estudamos a sua concepção e o computador portátil como um possível elemento para essa finalidade, foram surgindo indagações e questionamentos que nos levaram a dar continuidade aos estudos relacionados a essa pesquisa.
É importante ressaltar que a minha vivência enquanto membro do Grupo de Pesquisa em Educação, Comunicação e Tecnologia – GEC contribuiu bastante para o enriquecimento da minha formação, com as discussões realizadas em torno das TIC, o que possibilitou o intercâmbio de conhecimentos com outros integrantes do grupo.
Em vista disso, os questionamentos que nortearam esse estudo foram: Quais as possibilidades que o Programa Um Computador por Aluno traz para a formação crítica, autônoma e participativa dos envolvidos nesse projeto, em especial para as crianças e jovens em idade escolar? Qual a concepção de inclusão digital que permeia o Programa UCA? Que tipo de uso os alunos fazem do computador portátil? Quais as mudanças ocorridas na rotina, nas concepções e na forma de organização do trabalho pedagógico dos alunos? Quais os significados, valores e práticas sociais são compartilhados a respeito das TIC? Como os professores articulam os conteúdos pedagógicos com a cultura digital? Qual a abertura que os professores concedem para a vivência plena da cultura digital nas escolas?
Diante desse contexto, informamos que os objetivos que norteiam essa pesquisa tratam de: Analisar a concepção de inclusão digital do Programa Um Computador por Aluno; compreender os limites e potencialidades das dinâmicas do UCA para inclusão digital; identificar as vivências, práticas e ações que estão sendo desenvolvidas e que fazem parte do Pré- Piloto do UCA; analisar os softwares, tempos e espaços que o aluno está de posse do computador portátil, bem como a mobilidade da máquina e conexão disponibilizada pelo projeto.
Esse estudo monográfico ocorre dentro da perspectiva da abordagem qualitativa, por considerarmos, de acordo com Richardson (1989), que a mesma possibilita a compreensão do mundo pesquisado, aumentando as possibilidades de captação mais intensa dos fenômenos e suas transformações, dentro do processo social. Este tipo de abordagem é utilizada pelos pesquisadores “para explorar o comportamento, as perspectivas e as experiências das pessoas por eles estudadas” (SOUZA; ALMEIDA; ANTUNES. 2009, P. 1).
O caminho metodológico dessa pesquisa partiu de um estudo de revisão bibliográfica e avançou em um Estudo de Caso tendo como proposta empírica o Programa Um Computador por Aluno (UCA). Optamos pelo Estudo de Caso por entender que este método “supõe que se pode adquirir conhecimento do fenômeno estudado a partir da exploração intensa de um único caso” (GOLDENGERG, 2001, p.33). Segundo Goldenberg,
o Estudo de Caso reúne o maior número de informações detalhadas, (...) com o objetivo de apreender a totalidade de uma situação e descrever a complexidade de um caso concreto. Através de um mergulho profundo e exaustivo em um objeto delimitado, o estudo de caso possibilita a penetração na realidade social, não conseguida pela análise estatística (GOLDENGERG, 2001, p. 33-34).
Nesse sentido, podemos afirmar que esse método, nos possibilitou compreender a vivência do Programa Um Computador por aluno, assim como as dinâmicas desenvolvidas no projeto Pré-Piloto.
Vale ressaltar também, que foram realizadas entrevistas no intuito de coletar dados sobre as questões desse estudo e fundamentar as informações levantadas.
Portanto, para a realização desse trabalho demos continuidade aos estudos realizados durante a Pesquisa de Iniciação Científica (PIBIC), com base na coleta de documentos e entrevistas pela internet relacionada à pesquisa estudada. Em seguida relacionamos o referencial teórico e as análises realizadas sobre o Programa Um Computador por Aluno.
É importante dizer, que além desses dados, utilizamos entrevistas livres e exploratórias com as pessoas envolvidas no projeto pré-piloto do UCA (membros do Grupo de Trabalho, coordenadores das escolas e professores) como fonte de informação para a pesquisa.
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