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Bem Vindo ao sítio de Nelson Pretto - Meus escritos
última atualização em 02.07.2005
A Tarde - 02/07/2005
A Ufba e a sociedade
NELSON PRETTO diretor da Faculdade de Educação da Ufba – www.pretto.info
Ao longo dos anos, os jornais baianos abrem espaços para professores e
pesquisadores da única universidade federal instalada, até o momento,
em nosso Estado manifestarem-se sobre temas candentes do mundo
contemporâneo, como os transgênicos, a transposição do Rio São
Francisco, o uso de células-tronco, a reforma universitária, entre
tantos outros.
Outras vezes, esses espaços são ocupados para trazer para fora dos
muros da universidade (que, fisicamente, na verdade, não são tão
fechados assim!!!) temas que poderiam ser considerados mais internos à
comunidade universitária.
A importância do trato dos temas do primeiro grupo são evidentes, quase
óbvios, já que a Ufba (que neste 2 de Julho completa 59 anos de
fundada), em conjunto com as demais universidades públicas de nosso
Estado, é um celeiro de pesquisadores nas mais diversas áreas do
conhecimento, e a manifestação pública sobre essas temas é muito mais
do que uma obrigação inerente à nossa profissão, é o dever cívico de
estarmos opinando sobre esses assuntos, temas que a universidade
investiga e, principalmente, produz novos conceitos.
Quando, por outro lado, trazemos a público aqueles temas aparentemente
internos, entendemos que, da mesma forma que no primeiro grupo, é nossa
obrigação partilhar com a sociedade as questões íntimas que nos
afligem, como, por exemplo, a própria estruturação da universidade, a
forma de acesso a esta, e aí entram as políticas afirmativas, como as
cotas recentemente implantadas, o mecanismo de escolha de reitor ou da
ocupação que a Ufba faz dos espaços físicos da cidade e a sua relação
com ela.
Dividir com a sociedade essas preocupações é uma forma, também, de
prestar conta do que se faz na Ufba, de pensarmos e propormos para a
cidade (e para o Estado), do qual somos parte, novas e criativas
possibilidades.
Mais ainda, ao expormos nossos “problemas internos”, queremos – em alto
e bom som! – anunciar e convocar a sociedade baiana a assumi-los como
também seus. Como nossos, no sentido mais amplo do termo e do tema,
sendo este, exatamente, o caso da recente discussão sobre o Plano
Diretor da Ufba, coordenado pela nossa Faculdade de Arquitetura.
A Ufba mexe com a cidade. O movimento da cidade mexe com a Ufba. Essa
dança, às vezes não tão harmônica, toca na estética urbana, nas
configurações espaciais e culturais dos bairros e da vida das pessoas.
Pensar a cidade, enquanto espaço físico, é papel da Ufba como um todo e
não só dos especialistas de arquitetura. É papel de todos nós, de todas
as áreas, refletirmos, opinarmos e sermos ouvidos sobre todos esses
aspectos da vida das/nas cidades. Além disso, a Ufba, uma universidade
pública, tem a obrigação de, também e principalmente nos métodos,
apresentar novas práticas, que tenham no diálogo, no respeito ao
coletivo e na generosidade seus elementos mais fundamentais.
Assim, um plano diretor precisa ter a sensibilidade de ouvir e sentir o
clamor daqueles que vivem o cotidiano dos espaços da universidade e da
cidade. Por isso, quando olhamos para o Canela e vemos os históricos e
charmosos prédios da Reitoria, do Teatro Santo Antônio com a nossa
Escola de Teatro, da Escola de Belas Artes e as residências estudantis
do Canela e da Vitória, percebemos que elas fazem parte dos contornos e
da vida da cidade. Mais do que tudo, vemos que essas edificações
existem e resistem (a duras penas, é vero!) à violenta especulação
imobiliária que se alastra pela cidade da Bahia, justamente porque, e
somente porque, são um patrimônio federal, como o é a colina de São
Lázaro, que abriga, hoje, a Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
num espaço que já foi o Inep, na época de Anísio Teixeira.
Nós, cidadãos que já vivemos lutas históricas como a do Movimento da
Fábrica, que visava preservar uma velha fábrica de papel no Rio
Vermelho e transformá-la num centro cultural que engrandecesse ainda
mais a nossa cidade, sabemos o quanto é duro ver em seu lugar um posto
de gasolina e uma lanchonete, marca do capitalismo feroz que igualiza
tudo e todos, lá restando, apenas, a tradicional chaminé dos tempos
onde o tempo era marcado pelo seu apito. A mesmice impera, e parece que
muita gente gosta! Tudo vira shopping center, e a comida é rápida, é
fast food...).
A universidade não pode se deixar levar pelas soluções fáceis do
mercado. Será mesmo que tão fáceis assim?! Quando a imprensa põe na
ordem do dia a discussão sobre o plano diretor e o patrimônio da Ufba,
está a nos cobrar um posição mais enérgica.
Pensar a Ufba é pensar Salvador. É pensar a Bahia. Pensar a Bahia para
vivermos o século XXI com a dignidade que fomos perdendo aos longo das
últimas décadas, tendo a coragem de pensar uma cidade e um Estado de
ponta, tanto do ponto de vista científico e tecnológico, como no
respeito aos valores éticos e estéticos mais profundos.
Este texto esta públicado no _Blog de Pretto_. Vá por lá e comente se desejar!
Também publicado no Jornal da Ciência Hoje On Line |