POSSIBILIDADES INTERATIVAS DO SISTEMA BRASILEIRO DE TELEVISÃO DIGITAL TERRESTRE (SBTVD-T)

Nelson De Luca Pretto

Simone de Lucena Ferreira

Resumo

O desenvolvimento e a disseminação das tecnologias da informação e da comunicação (TIC) estão modificando as relações pessoais, profissionais e imprimindo novas formas de criação, produção e circulação de mercadorias e serviços. Surgem assim outras possibilidades de construir e transmitir o conhecimento potencializando a construção de saberes coletivos com sujeitos localizados em diferentes espaços e tempos, mas interagindo no mesmo ambiente virtual. Nosso maior desafio é disponibilizar ao maior número de pessoas o acesso a estas tecnologias. O governo brasileiro lança por meio do Decreto 5.820/2006 o Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre (SBTVD-T) fazendo uma opção técnica impregnada por pressões políticas. Para a implantação desse sistema é importante o envolvimento de pesquisadores de diversas áreas tanto técnicas como educacional a fim de que seja possível desenvolver um sistema que atenda as necessidades da sociedade brasileira incluindo a conexão a internet. Esta pesquisa em andamento, propõe estudar possibilidades de novas educações utilizando a TV digital.

Palavras-chave: Educação, TV digital, Interatividade

Novas Educações

Nos últimos 50 anos a educação e a educação a distância (EAD) vêm passando por grandes muitas transformações, principalmente com o desenvolvimento e a utilização as Tecnologias de informação e comunicação (TIC). Atualmente novos espaços e ambiente telemáticos que utilizam diversas multimídias têm sido desenvolvidos para a educação. No entanto ao mesmo tempo é possível encontrar, nestes novos ambientes, velhos modelos de educação pautados no paradigma linear de comunicação entre emissor (professor) e receptor (aluno). Criam-se vídeos educativos, sites e portais educativos onde os alunos assistem ou fazem dowloand de arquivos e textos postados pelo professor. Em alguns casos é permitido ao aluno apenas participar disponibilizando as suas tarefas, ou seja, enviando as respostas daquilo que lhe foi solicitado ao professor. Será que é está a única forma que temos de fazer uma nova educação utilizando as novas tecnologias para as velhas concepções de educação? Certamente que não. Precisamos buscar outras possibilidades de educação que possam utilizar as estruturas não-lineares das redes de comunicação com o objetivo de oportunizar ao aluno ser sujeito construtor do seu processo de aprendizagem que poderá ser feito de forma coletiva e colaborativa.

Vivenciamos hoje diferentes práticas sociais e interativas nos ambientes virtuais existentes na internet. Nestes espaços jovens e adultos, alunos e professores interagem de forma horizontal construindo saberes significativos. O conhecimento passa se constituir de forma não hierarquizada, numa perspectiva de rede aonde diferentes autores vão produzindo construções coletivas. Desta forma novas educações precisam ser pensadas onde não haja centros (nem no professor, nem no aluno) e onde todos passam interagir com todos tornando-se assim autores e co-autores de cultura e conhecimento.

Certamente que para pensarmos hoje em novas educações é imprescindível o uso das TIC. Contudo vale ressaltar que estas tecnologias não estão disponíveis a todos e que também nem todos os espaços educacionais estão conectados a rede mundial de computadores.

Percebe-se que por muitas vezes na história da educação brasileira diversos projetos tais como: Educom (1983), CIED (1986), TV Escola (1996) e PROINFO (1997) foram criados com o intuito de inserir as tecnologias na educação como forma de melhorar o processo ensino aprendizagem. É importante pensar que nestes projetos as tecnologias eram percebidas como recursos didáticos capazes de motivar aulas que tradicionalmente eram apresentadas sem estes equipamentos. Esperava-se que os mesmos conteúdos trabalhados com livros didáticos agora poderiam ser trabalhados com os recursos tecnológicos. Neste sentido fazer pesquisa para os alunos de ensino fundamental e médio, passou a ser fazer cópia de textos da internet assim como anteriormente também se copiava das enciclopédias. Ao usar as TIC apenas como recurso perde-se a possibilidade de utilizá-las como elemento estruturante de novas formas de ser, pensar e agir. Usar hoje as TIC na educação de forma critica, criativa, colaborativa e autônoma é pensar na formação de cidadão e não de consumidores (Canclini, 2001) de produtos globalizados.

Atualmente percebe-se que o modelo de educação tradicional não consegue mais dar conta das transformações que vivenciamos na sociedade contemporânea. Para Ramos (2002) o esgotamento do modelo de educação tradicional tem haver com “desenvolvimento e penetração das tecnologias de comunicação, muito em especial das alterações desencadeadas e alimentadas pela internet, quer nos meios quer nas mentalidades, ao longo da última década (p. 138).” Buscar formas interativas de novas educações que possam contribuir para a construção de espaços educacionais abertos capazes de formar sujeitos transformadores é algo imprescindível na sociedade contemporânea cada vez mais permeada pelas TIC. Neste sentido torna-se necessário pensarmos que educação será capaz de formação estes sujeitos transformadores, atuantes, críticos e autônomos? Para Paulo Freire a educação se fundamenta no mundo da comunicação, onde o homem está em relação com os outros homens e com a natureza. Freire foi um dos primeiros educadores brasileiros a perceber a estreita relação entre educação e comunicação pois não há educação sem diálogo, sem comunicação. Ele chegou a denominar de “educação bancária” a educação feita de forma unidirecional, onde o professor deposita os coteúdos/informações no aluno para que este assimile de forma passiva. É notório que uma educação nesta perspectiva não é capaz de formar cidadãos críticos capazes de transformar a sua realidade.

Em “Mestres de amanhã” Anísio Teixeira em 1963 nos alertava para a necessidade dos professores se apropriarem das potencialidades tecnológicas pois estas iriam transformar a sua prática pedagógica. Segundo Anísio

"os novos recursos tecnológicos e os meios audiovisuais irão transformar o mestre no estimulador e assessor do estudante, cuja atividade de aprendizagem deve guiar, orientando-o em meio às dificuldades da aquisição das estruturas e modos de pensar fundamentais da cultura contemporânea de base científica em seus aspectos físicos e humanos. Mais do que o conteúdo do conhecimento em permanente expansão, cabe-lhe, com efeito, ensinar ao jovem aprendiz a aprender os métodos de pensar das ciências físico-matemáticas, biológicas e sociais, a fim de habilitá-lo a fazer de tôda a sua vida uma vida de instrução e estudos."

Os desafios colocados aos mestres por Anísio na década de 1960 ainda continuam sendo os mesmos desafios existentes neste inicio de século XXI pautado nas comunicações globalizadas possibilitadas pelas redes telemáticas planetárias. Rede que no Brasil só está disponível a cerca de 10% da população, o que torna as escolas pontos importantes de democratização do acesso a esta tecnologia. Contudo é preciso ampliar cada vez mais o números de pessoas conectadas principalmente aquelas pertencentes a classes sociais menos favorecidas economicamente. Neste sentido aumentar os telecentros comunitários, transformar a escola em pontos de acesso para a comunidade são medidas importantes, assim como será também importante que a TV digital brasileira oportunize a principalmente inclusão social conforme objetivos estabelecidos no decreto 4.901/03.

A educação com a TV Digital

A televisão analógica há algum tempo já foi inserida na escola embora o seu uso nas práticas pedagógicas ainda seja limitado devido a falta de preparo do professor para utilizar esta tecnologia de forma critica visando proporcionar ao aluno uma análise da realidade que o cerca. Em geral quando a televisão é usada na sala de aula é apenas para assistir programas educativos do tipo vídeo aula. Em atividades como essa cabe ao aluno ser apenas o telespectador de conteúdos produzidos por outrem que não priorizam as suas crenças e cultura.

O advento da TV digital permitirá a utilização de recursos que antes não era possível com a TV analógica. A TV digital poderá proporcionar a bidirecionalidade, ou seja o canal de retorno, o que a torna interativa, sendo, por este motivo potencializadora de espaços não-lineares de construção de conhecimento. Ao pensar em novas educações para a TVD é imprescindível a interatividade, pois esta será uma das possibilidades de alunos e professores tornarem-se autores e co-autores de conhecimentos significativos. Novas linguagens e novas formas de sociabilidades serão construídas por meio de relações horizontais em espaços dialógicos que priorizem a formação para o exercício da cidadania.

Entretanto para utilizar a TV digital na educação é preciso antes pensar que educação estamos querendo: uma educação de massa ou nova educação capaz de transformar consumidores em cidadãos? Qual a concepção de educação está contida no SBTVD-T? Quais os elementos que podem proporcionar uma nova educação no SBTVD-T capaz de formar sujeitos produtores de cultura e conhecimento e não apenas receptores de conteúdos e informações?

A TV analógica esta presente em 95,7% dos domicílios brasileiros e em 91,12% dos domicílios das classes D e E. Por este motivo ao priorizar uma TV digital aberta por difusão terrestre o Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre (SBTVD-T) terá a oportunidade de alcançar suas principais metas a inclusão social e a educação a distância. Uma educação que não será mais no sentido broadcasting da televisão analógica, mas uma outra educação capaz de utilizar as possibilidades da TV digital interativa.

O SISTEMA BRASILEIRO DE TELEVISÃO DIGITAL TERRESTRE (SBTVD-T)

Embora as discussões sobre TV digital (TVD) estejam mais em evidências atualmente, os estudos sobre a sua implantação no Brasil não é algo recente. No final da década de 1990 foram iniciados testes de campo entre os três maiores sistemas de TVD em funcionamento no mundo (o norte-americano ATSC, o europeu DVB e o japonês ISDB). Estes testes foram realizados pela ABERT (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV), pela SET (Sociedade de Engenharia de Televisão e Telecomunicações) e pela Universidade Mackenzie. Posteriormente foram feitos estudos técnicos e mercadológicos pela Fundação CPqD? (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações) a partir de demanda da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) que coordenava neste período as pesquisas referentes a TVD. A pesquisa feita pelo CPqD? tinha como objetivo identificar os principais fatores que levaram à adoção da TV Digital bem como conhecer o plano de implantação dessa tecnologia nos países pioneiros. Fizeram parte desta pesquisa os seguintes países: Alemanha, Austrália, Canadá, Cingapura, Espanha, Estados unidos, França, Itália, Japão, Portugal, Reino unido e Suécia.

Em 2003 o governo brasileiro iniciou novos debates a cerca da implantação da TVD no Brasil. A ênfase do discurso não era mais a adoção de um sistema internacional e sim a criação de um Sistema Brasileiro de Televisão Digital que atendesse as necessidades da sociedade brasileira. Desta forma o governo institui o SBTVD por meio do Decreto nº 4.901 de 26/11/2003. Este decreto aponta entre outros objetivos da TV digital: promover a inclusão social, a diversidade cultural e a democratização da informação bem como propiciar a criação de rede universal de educação à distância (grifo nosso). Neste sentido precisamos pensar em uma nova TV que possa priorizar a comunicação aberta e interativa e não apenas no sentido unidirecional como acontece com a TV analógica. Criar uma TVD para continuar tendo a mesma forma de transmissão da televisão atual, tendo apenas uma melhor qualidade de imagem e som é pouco interessante para a maioria da população que já é excluída de acesso a internet e de produção de conteúdos. A TVD não deverá ser simplesmente um meio de comunicação de massa onde a informação é produzida por um pólo emissor e transmitida de igualmente para todo o país. Para pensarmos em novas educações principalmente com a atual geração net ou geração alt tab precisamos de espaços educacionais onde as relações sejam horizontais e todos tenham a possibilidades de serem produtores de cultura conteúdo.

A criação do projeto SBTVD proporcionou a formação de parcerias com 79 instituições e 22 consócios entre empresas, universidades e centros de pesquisa brasileiros atendendo às Chamadas Públicas realizadas pelo Ministério das Comunicações, Ministério da Ciência e Tecnologia, FINEP e FUNTTEL. As instituições selecionadas deveriam estar aptas a desenvolver projetos nas áreas de difusão e acesso; terminal de acesso e serviços; e aplicações e conteúdo, dentro dos seguintes temas:

a) Transmissão e Recepção, Codificação de Canal e Modulação

b) Camada de Transporte

c) Canal de Interatividade

d) Codificação de Sinais Fonte

e) Middleware

f) Serviços, aplicações e conteúdo

Percebe-se que a formação de uma grande rede de pesquisa integrando diversas instituições em favor do desenvolvimento de uma tecnologia nacional é algo positivo e inovador pois estas instituições atuaram de forma conjunta empenhando-se ao máximo para alcançar resultados satisfatórios. Neste sentido, acredita-se que atualmente os melhores pesquisadores sobre TV Digital do mundo estão no Brasil uma vez que para desenvolver o SBTVD foi necessário antes de tudo estudar amplamente os padrões ATSC, DVB e ISDB buscando analisar seus pontos positivos e negativos.

As pesquisas realizadas para a elaboração do SBTVD acabaram despertando interesse de outros países em desenvolvimento como Argentina, Venezuela e Peru, devido ao fato destes estudos levaram em consideração as realidades sócio-econômicas locais bem como os aspectos técnicos. Vale ressaltar que a criação de um Sistema Brasileiro de TV Digital poderia colocar o Brasil a frente das inovações tecnológicas na América Latina. Entretanto apesar das pesquisas e dos investimentos feitos para a construção do SBTVD, o governo brasileiro no dia 29 de junho de 2006 lançou o Decreto n º 5.820 implantando o SBTVD-T na plataforma de transmissão e retransmissão de sinais de radiodifusão de sons e imagens e definindo como:

I - SBTVD-T - Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre - o conjunto de padrões tecnológicos a serem adotados para transmissão e recepção de sinais digitais terrestres de radiodifusão de sons e imagens.

II - ISDB-T - Integrated Services Digital Broadcasting Terrestrial - serviço de radiodifusão digital terrestre, integrado por padrões tecnológicos internacionais definidos na União Internacional de Telecomunicações - UIT.

Percebe-se que as opções feitas no Decreto 5.820/06 ao adotar o padrão japonês como base tecnológica para a implantação do SBTVD-T não foram fundamentadas considerando a realidade brasileira nem os objetivos propostos pelo decreto 4.901/03 e muito menos as pesquisas desenvolvidas pelas instituições cientificas que fizeram parte dos 22 consórcios financiados com investimentos públicos. Esperava-se que a TV digital pudesse proporcionar novas formas interativas entre os indivíduos inserindo assim possibilidades de uma nova educação não mais pautada na lógica da mera transmissão de conteúdos. Com a escolha do padrão japonês de TVD perde-se a oportunidade termos interatividade e multiprogramação de canais para priorizar imagens e som em alta definição como desejam atualmente as grandes emissoras de TV.

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