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MEMORIAL PEDAGÓGICO

O TODO E AS PARTES

"Registrar o passado não é apenas falar de si, é falar dos que participaram de certa ordem de interesse e de visão do mundo, no momento do tempo que se deseja trazer algo à lembrança”. Holanda (1995) Quando o escritor traz esse raciocínio, logo pensei na apresentação desse memorial pedagógico de forma discursiva, circunstanciada e numa perspectiva histórica. E diante disso, fiz uma análise crítica e real das atividades acadêmicas que desenvolvi ao longo do período de formação e na atuação profissional. São destacados os elementos constitutivos dessa trajetória que foi fundamental para a dinamização da prática em sala de aula e que serviram como referências para o universo de possibilidades em termos de novas perspectivas de formação e de atuação. No despertar destes novos tempos em que os avanços tecnológicos e a expansão dos meios de comunicação definem diferentes exigências para a análise crítica da realidade, organizo esse memorial de formação pedagógica que integra as minhas idéias sobre a vida social, com a intenção de regular a você, leitor, uma rica experiência de trabalho como professor e de saberes adquiridos na prática de sala de aula. Para vencer este desafio e compreender os múltiplos jogos de significados que os conhecimentos sistematizados e atualizados criaram, procurei me despertar no debate, na pesquisa, e na produção de textos, apropriando da linguagem oral e escrita. Com isto, o meu desempenho na sala de aula ficou mais dinâmico. Chauí (2002), acerca desse contexto, afirma que "é da memória que os homens derivam experiência, pois as recordações repetidas da mesma coisa reproduzem um efeito duma única experiência". Quando passei a entender as relações históricas entre a sociedade, a natureza e o mundo do trabalho que Chauí reforça, tive mais discernimento sobre os fatos pedagógicos. Lembro, porém, que para o entendimento e compreensão dos fatos e situações que estão presentes nestas relações, foi preciso que eu estivesse disposto a participar, juntamente com os professores das atividades do processo ensino/aprendizagem, buscando no exercício do diálogo e da reflexão, o domínio dos conhecimentos sistematizados pela faculdade com espírito de confiabilidade. As atividades realizadas durante esse processo, têm contribuido como parte da minha formação para as escolas em que trabalho. Ao me envolver com essas oficinas, passei a incorporar, naturalmente, as possibilidades de expressão para além da oralidade e da escrita, passei a pensar e elaborar discursos com propósito de usar as diferentes linguagens, hoje disponíveis no nosso cotidiano para expressar idéias e provocar o diálogo.

CONVIVÊNCIAS PESSOAIS IMEDIATAS

Escrever é sempre reescrever, isto é, citar, referir-se a escritas anteriores, mesmo sem saber que se está repetindo. A qualquer momento é possível desembarcar para prosseguir viagens em rumos outros, inclusive o da volta ás origens para retomar a caminhada, em outra companhia, por entre a diversidade das paisagens mudadas, dos ritmos e das intempéries. Ela não segue caminhos, os faz e refaz de contínuo, fazendo-se a si mesma. (Marques, 1977, P. 40). Analisando essa afirmativa, sinto que preciso retroceder às recordações que estão para sempre inscritas no meu imaginário: a infância que foi festiva, feliz e de muito trabalho. Os finais de semana e as férias escolares eram vividos no campo, no convívio barulhento e alegre com uma irmã, três irmãos, primos e outros companheiros de algazarra que moravam em Aguada Nova, município de Lapão-Ba. As brincadeiras na água barrenta da lagoa, o cheiro doce e gostoso do mato, o milho verde assado nas brasas do fogo aceso nos barrancos da lagoa, os passeios a cavalo pelas roças e o esconde-esconde nos “pés de mamona” são imagens guardadas e cultivadas. Lembro todos os odores e os diferencio com exatidão, do cheiro forte do cavalo ao suave perfume do mato. Uma vida que foi aspirada, tocada, cheirada e respirada. Essa foi a grande escola dos meus sentidos de infância e adolescência. As tardes eu passava na escola, dependurado numa cadeira que me obrigava os incômodos exercícios de alongamentos na tentativa de evitar algum tipo de distorção. Tocado o sinal do fim das aulas, eu saía correndo em direção à cacimba para poder ajudar minha mãe a encher os banheiros e latas com água. Desses recipientes, a água era transportada para a casinha de banhos onde, suspensos por uma corda, prendia um antigo chuveiro de lata, alimentado manualmente com água fria no verão e água quente no inverno. Não posso deixar de ressaltar que com meus pais aprendi desde cedo a assumir a responsabilidade por meus atos e a ser mais coerente. O gosto pela independência e a determinação herdei de minha mãe, autoritária e fortemente determinada em tudo que faz. O amor pela profissão nunca foi herança familiar: três tias paternas, todas elas estudantes, mas desistiram no “meio do caminho”. Sem dúvida, isso nunca foi um espelho pra mim. É a paixão pelos alunos que faz o educador. Esse amor aprendi com os meus ex-professores que tiveram um grande respeito pela condição humana. Porém, minha mãe foi e está sendo uma pessoa especial na minha vida. Contrariando os preconceitos machistas, ainda mais rígidos aquela época, mostrou aos filhos que chorar faz parte da condição humana, de homens e mulheres. O amor que nutria por seus semelhantes era cultivado no dia-a-dia com a família, com os amigos e com os mais distantes forasteiros que aparecessem. Isso só reforça que a família é o primeiro espaço de aprendizagem da competência comunicativa. Na família os pais se desejam um ao outro e na gratuidade do amor se realizam ambos no ser dos filhos, aliando as exigências do afeto com as da responsabilidade que lhes atribui à cultura em que vivem. Filho de Valdete Gonzaga de Oliveira e Euflásio Cecílio dos Santos, pertencente a uma família de trabalhadores do Distrito de Aguada Nova, Lapão-Ba, tenho como uma das principais referências pessoais, a determinação de um jovem negro que substitui o tempo de aprender as primeiras letras pelo trabalho nas lavouras de outrem, na produção de milho, mamona e feijão. A persistência, resistência e seriedade de meus pais, descendentes de escravos, fizeram com que eu conseguisse alcançar o nível de alfabetização do ensino com muito esforço e com uma das caligrafias mais deformadas que as professoras já conheceram. Ter nascido dessa união tem um significado muito especial, que não pode ser traduzido por qualquer tentativa de racionalização sobre a minha história de vida. Contudo, a simples tentativa fortalece o sentimento de que o tempo passa, as pessoas mudam, mas as experiências que vão sendo adquiridas ao longo da vida, desde a mais tenra idade, compõem a nossa própria essência, condiciona e provoca os nossos sonhos. São referências para as minhas perspectivas. Quando Mello (1993) ressalta que é no mundo letrado, no qual o domínio da língua é também pré-requisito para a aquisição da capacidade de lidar com códigos e, portanto, ter acesso a outras linguagens simbólicas e não verbais, como as de informática e as das artes, eu começo a lembrar dos meus sete anos, quando tive que ir à escola pela primeira vez. Foi um momento tão esperado que acabei não indo ao dia previsto, fiquei com medo das professoras, secretárias, merendeiras, diretora e futuros colegas de classe. No dia seguinte, cheguei à sala. Comecei cobrindo as letras, soletrando e repetindo a leitura da professora. Nos dias atuais, essa orientação é por demais incoerente com as questões teóricas sob estudo que remetem para a permanência da colaboração no processo de construção do saber. Na Escola, eram realizadas as atividades de instrução, baseadas no ensino de leitura, escrita e aritmética, nas ciências naturais e sociais e outras atividades ligadas ao currículo formal para cada série. A ligação com os princípios tradicionais era evidente na postura das professoras que se limitavam em realizar exposições verbais dos conteúdos, nesse momento era terminantemente proibido qualquer desatenção ou conversa paralela, o silêncio era a principal regra que deveríamos obedecer depois de ordenados em fileiras nas salas de aula. Uma grande ênfase era dada à repetição, as rotinas de trabalho na sala de aula passavam pela leitura individual e em voz alta dos textos do livro de Português. Nesses momentos, deixar de aplicar a entonação correta, a cada ponto ou vírgula, era motivo de interrupção brusca e correção impaciente da professora. Entrar na escola foi algo tão marcante que ainda lembro das primeiras aulas nas salas com as professoras leigas, porém, respeitads por todos pela incrível forma de alfabetizar as crianças. O interessante era que mesmo quando estava em casa, a brincadeira predileta passou a ser a imitação do que ocorria na sala de aula. Não demorou para que minha mãe se esforçasse para presentear-me com uma pequena lousa, o que tornaria completa a simulação diária realizada com meus irmãos e colegas de sala. Estudar matemática era agradável, porém, ainda lembro da apreensão que causava no dia da sabatina, para a qual os alunos tinham que ter decorado a tabuada. Cometer um erro, no momento em que a professora perguntava individualmente, era fatal. Tenho fortes recordações da separação da turma entre “fileiras dos sabidos” e “fileiras dos burros”. Já na quarta série, os valores tradicionais estavam presentes, os professores tinham uma postura autoritária, as aulas praticamente não se diferenciavam quanto à estrutura de apresentação de conteúdo e aplicação de exercícios, os conceitos e fórmulas deveriam ser repetidos e memorizados, o intenso controle disciplinar era constante tanto dentro quanto fora das salas de aula. Dedicar-se aos estudos, naquele momento, representava, para mim, em primeiro lugar a chance de ficar isento da vergonha de não saber, depois a busca da valorização atribuída pelo professor aos alunos que tivessem os melhores desempenhos e, por fim, significava entrar no jogo da competição entre colegas pelas melhores notas. Um dos momentos mais esperados era o resultado da unidade e o resultado final para a aprovação da série seguinte. Mas esse estudo, que se situou numa linha de ensino tradicional apontou alguns momentos de estranheza que a imagem da infância assume nesta perspectiva. Freire (1989) afirma que a alfabetização é mais que um simples domínio mecânico de técnicas para escrever e ler. Com efeito, ela é o domínio dessas técnicas em termos conscientes. Foi diante desse contexto que percebi a razão de passar muitos anos no ensino primário, a ponto de perceber a importância das letras e das operações matemáticas. Passie seis anos para conclui essa fase. Esse tempo extenso para conclusão do primário, foi devido ao fato de que ,antigamente, estudar, inicialmente, a alfabetização, a cartilha, e depois a 1ª, 2ª, 3ª e 4ª séries. A partir da 5ª série, tive a oportunidade de ser matriculado no Centro Educacional Cenecista Antônio Matos Filho, nome de um colégio de Aguada Nova, município de Lapão-Ba, em que estudei durante oito anos. Agora, já adulto, relembro alguns aspectos desse período. Os fatos ocorreram num ambiente aberto do colégio, no qual convivem crianças, adolescentes, professores e empregados. As recordações e impressões que marcam minha vida neste local são reproduções exatas da realidade, como també, o resultado de uma experiência em termos de fatos gerais. Desse modo, a instituição, os colegas, professores foram representados em função de minhas lembranças e significações de um relacionamento tumultuado, mas bem simpático, por natureza. Os companheiros de classe formavam uma variedade de pessoas que me divertiam. O Edivan, pequeno, magrinho, cabelos baixos, cheio de histórias absurdas, como dizia o professor Claudinez, era o mais palhaço; o Dilton, galego, cabelos meio ruivos; o Derlean, playboizinho da turma, namorava quase todas as meninas; o Alberlan Pires, o riquinho, bancava todas as despesas dos colegas, para se exibir diante das meninas. Ah! eu era visto como o mais irreverente, rosto cinzento por falta de creme, o mais humilde por não ter tradição familiar no estudo; fortíssimo em tabuada, cinco vezes três, vezes dois, noves fora, lá estava eu nervoso, trêmulo, mas sacudindo no ar o dedinho esperto. Na verdade, esta era a “turma do fundão”. O resto, uma "cambadinha" indistinta de “patricinhas” e “mauricinhos”, adormecidos nos primeiros lugares, sempre fazendo comentários com abaixo-assinado para nos tirar daquela sala.

O X DA QUESTÃO Durante o primeiro mês de colégio, um pensamento de um feriado causava em mim uma forte alegria. Quando retornei a vida de à-toa, entrei em casa desfeito de vaidade, em exuberância de um dia ou uma semana de folga. Afinal de contas, uma aula vaga era motivo para comemorações de todos os alunos. De volta às aulas, surgiu o grêmio estudantil, o verdadeiro teatro dos soberbos alcances na vida de alguns alunos. Duas vezes por semana, organizavam-se os amigos do esporte, numa das salas ao canto. Às suas reuniões aparecia eu, timidamente, para nada mais que simplesmente abusar, por excesso, de um direito que o estatuto me assegurava. A dificuldade que um estudante encontrava para ter o privilégio de participar de um grêmio estudantil fazia-me, mais a fundo, vulnerável, pois eu não tinha muita desenvoltura na execução das tarefas. O Vinicius, aluno do terceiro ano, não teve o menor embaraço; entrou para o estabelecimento muito adiantado, foi imediatamente proposto, aceito e empossado. Ele falou durante uma hora e meia com uma fluência que lhe angariava para sempre uma palavra de qualidade. Eu, que nada tinha de artista, só falava "causos" que as pessoas não entendiam. Com certeza, eu não podia contar com votos do bom povo, pois estive a fazer bobagens. Diante disso, o colega foi proclamado o magno dos magnos. Desse memorável dia, todos que foram matriculados naquele colégio, não podiam esquecer. Daí em diante, que o presidente do grêmio estudantil não podia dar um passo a não ser que fosse com seriedade firmada e jurada diante de todos. Para não destoar da percorrida fama, ele ficou envolvido com direitos e deveres dos alunos, e com muito orgulho, diga-se de passagem. No grupo, tinha poetas, jornalistas, polemistas, romancistas, críticos, etc. Os alunos já tinham seu órgão. Em meio a esse movimento geral da existência do grêmio estudantil, eu observava caprichosamente os fatos, sem saber de nada, de modo encantador e fraternal. O presidente conversava com os mais jovens, falava da família, falava dele, dos tempos passados. Para mim, aquilo era encantador, mas eu não tinha argumento suficiente para contra-atacar. As atividades do nosso órgão representante me marcavam em duas ocasiões de sobriedades: festas anuais de abertura e de encerramento dos trabalhos. Além destas, as sessões comemorativas do colégio. Para as festas culturais, lavávamos o pátio, colocávamos algumas mesas para a diretoria, sob um rico pano de cor vinho, de ramagens negras que davam um tom de agouro. Esse fato significava muito esforço e dedicação pelo colégio. Quando se aproximava a época das férias do meio do ano, a nossa turma ia logo inventar algumas brincadeiras: a peteca subia como foguete, palmeada em nossas mãos; inventávamos as bolas de gude; vinham os jogos de salto sobre um tecido de linho; a amarelinha entrava em cena; vinha depois o jogo de corrida entre aqueles que gostavam do “chicotinho queimado”. Vivíamos os momentos de narração; o pátio se animava com o revoar de penas, com o estalar das bolas passando como pedras e atingindo a vidraça das janelas. Já na semana anterior às férias, eu mesmo combinava, com a "galera toda", um lugar de encontro para todas essas brincadeiras. Havia também os jogos de parada, em que circulavam como preço os selos postais, as carteiras de cigarro. Com a proximidade das férias de fim de ano, tudo desaparecia. Os colegas saiam para as roças e o aborrecimento imperava. A impaciência da expectativa de livramento daquela monotonia fazia maior a prisão dos últimos dias. Eu, solitário, ia e vinha do colégio, percorrendo as salas, reclamando o prazo da impaciência, vendo pairar pelo pátio o momento de recreio que tanto aproveitávamos. Ali, eu lembrava dos minutos demorados dos recreios, nos quais eu e meus amigos organizávamos a exposição dos trabalhos de sala de aula. Por falar em recreio, as provocações nesses momentos eram freqüentes provimentos de brigas. Os inspetores precisavam interferir nos conflitos, a "galera" andava em busca de sucesso.

AS EVIDÊNCIAS NA ADOLESCÊNCIA Ainda hoje, tenho rápidas e agradáveis lembranças que me remetem às salas e corredores do colégio Cenecista de Aguada Nova, Lapão-Ba. Havia na CNEC (Campanha Nacional das Escolas da Comunidade), alunos dóceis, criaturas escolhidas a dedo para o papel de complemento objetivo de caridade, tímidos e bem comportados. E nós, a “turma do fundão”, com todos os deveres, nenhum direito, nem mesmo o de prestar atenção a nada, tínhamos que fazer alguma atividade para brilharmos diante dos mestres. Em retorno, os professores tinham a obrigação de nos fazer brilhar, por que caridade que não brilha é caridade perdida. E os professores já sabiam de que se fôssemos contrariados, a bagunça estava feita. Esse processo funcionava como uma espécie de chantagem, ou seja, alunos homenageados - aulas aplicadas com maior segurança. Vale salientar que isso era no ensino fundamental. Na primeira semana do mês de setembro de 92, quando estávamos no pátio, ensaiando a entoação dos Hinos de Lapão-Ba, Nacional e da Pátria, houve certo desentendimento com Edimário e Gilderlan, ambos da “turma do fundão”, existindo mesmo, a agressão física. Os condenados negaram depois. Em todo caso era de efeito simples, engrandecido pela "espalhação" do boato. Concluída a chamada dos indiciados, a sala toda respirou tranqüilamente. No recreio a rapaziada dispersou-se com os gritos festivos. Edimário, sobretudo, estava de um descontentamento nunca visto. Casualmente em liberdade, sem suspensão nenhuma, e também por não ter havido informações aos pais, o Gilderlan Rosendo fazia da circunstância uma pura pirraça contra o Edimário: ”Eu é que sou mau”, repetia andando na sala, “eu é que sou o bandalho, a peste do colégio! O mal sou eu”. Edimário foi gradualmente perdendo a paciência, atirou-se por fim ao Gilderlan, desesperado, lançou-o ao piso, meteu-lhe o pé, mas os separamos daquele conflito. No outro dia, em nome do diretor, foram convocados os responsáveis, e mais ou menos dez testemunhas, e eu no meio. Fomos alinhados no corredor que partia para a sala do diretor. Na qualidade de presos escolares, vítimas da desconfiança do diretor, não nos envergonhávamos de pedir perdão. Uns conversavam gracejando, outros se sentaram no sofá. Junto de mim ficava um armário dos materiais escolares, revestido-se a vidraça de uma tela protetora de metal. Por trás do armário, havia uma porta. Os responsáveis conversavam do outro lado com o diretor. Eu ouvi algumas palavras perdidas... De boa família, um descrédito! Vão pensar... Expulsar não é corrigir... Isto é o menos... Não há gratuitas... Sim, sim. Quanto a mim... Beleza. Decididamente, foi um dia sinistro. Na sala, enquanto o destino dos alunos era traçado, ouvimos enorme barulho no pátio. Recomeçavam as vaias. Era um tumulto espantoso. Gritos dos jovens em revolta por causa da fila da merenda. Os inspetores chegaram aterrorizados, procurando o diretor e mostrando a cara dos alunos que estavam empurrando os outros na fila. Adivinha logo. Essa bagunça é por causa do corte da fila por parte dos filhos das merendeiras e também dos filhos dos outros empregados do colégio. Uma velha queixa. A comida da CNEC não era péssima. O razoável para algumas centenas de alunos. Mas o que aborrecia era a impertinência investida daqueles “furadores” de fila. Diante dessa revolução, o diretor indagou: Mas porque, meus amigos, não formularam uma representação? Alguns alunos responderam: - A representação é o motim reduzido à expressão desordeira. Logo o diretor refutou: - Qual a necessidade da representação por arruaças? Têm toda a razão... Perdão a todos. Porém sou tão enganado, quanto vocês. Voltando ao caso de Edimário e Gilderlan, o diretor torturava-os ainda em cima do serem ou não serem expulsos. A situação deles era complicada, pois já eram reincidentes. Moralidade, disciplina, tudo junto, era demais! Era demais! Esbravejava o diretor. Neste momento entrava-lhe a justiça pelos bolsos como um desastre. O melhor a fazer (pensamento do diretor) era suspender os principais responsáveis por três dias letivos. Eu que tinha um “pé atrás” com o diretor, percebi naquele instante que a justiça não fora feita. No entanto, algumas palavras, com ar de ternura, de todo o ressentimento ficavam transparentes, e nenhuma punição houve para os envolvidos. Hoje, por conta de estudos acadêmicos, num tipo de comportamento mais estável, percebo as políticas como representações do mundo e como concretização da realidade social, mas naquela época, isso não foi possível devido à falta de informações necessárias. No segundo grau, tive outros tipos de atitudes, outros tipos de comportamento. Essa mudança foi motivo de comentários no colégio e em toda a comunidade durante o ano todo. O interessante é que nos intervalos sempre tinham as brincadeiras esportivas. Antes, nenhum grupo me queria presente, mas devido à mudança de comportamento, passei a ser o primeiro dentre as preferências, principalmente porque eu tinha muita habilidade nos esportes, fazendo com que os colegas se sentissem obrigados a me escolher, ou então perderiam o jogo. Os fatos ficaram favoráveis para mim. Os colegas me convidavam para explicar os assuntos que eles tinham dúvidas. Isto me faz relembrar das aulas de matemática financeira, nas quais eu fui mediador: a experiência deu tanto certa que tomou dimensões municipais. Como eu já estava mais experiente, passei a fazer parte de comissões de estudantes, participando de campanhas e eventos em prol da comunidade, tais como: gincanas, jogos esportivos, bingos, etc. Mas eu não podia me envolver muito porque o terceiro ano do curso de Magistério se aproximava e o trabalho ficou mais complicado. O trabalho ficou tão difícil, que em um determinado dia eu tive vontade de colocar fogo nos materiais do Estágio de Regência de Classe, mas meus colegas não deixaram que tal fato acontecesse. Eu quis fazer isto por conta das exigências da professora/orientadora da disciplina. Falando em estágio, a professora orientadora propôs sorteio de séries e das duplas para assumir o Estágio de Regência de classe. Fui sorteado para formar dupla com uma mulher. Quando cheguei à sala que fui designado para estagiar, fiz a apresentação pessoal. Depois disso, dez crianças correram em minha direção. Alguns choravam, outros gritavam e me agarravam. Foi um desespero total. Eu não sabia como contornar aquela situação, era a verdadeira bagunça. Mas eu tinha que suportar, pois eu já tinha vencido as duas primeiras etapas do curso (Magistério): - o estágio de observação - e o estágio de cooperação. O estágio se passou e veio a mais badalada solenidade que o colégio já tivera. Meses de reuniões para decidir a roupa da solenidade e convidados de honra. Depois de tantas discussões, decidimos que os formados usariam becas pretas com detalhes brancos à altura do pescoço, acompanhadas de chapéu. Eu estava todo ansioso com a colação de grau que cheguei duas horas antes do tempo. Chegou o momento de entrarmos na igreja: tapete vermelho, músicas instrumentais e o mestre-de-cerimônias anunciando nossas presenças. Jamais tinha visto uma missa demorar tanto. E o que mais me deixou nervoso, foi o fato ser o orador da turma. Essa tarefa tornou-se para mim, uma atividade didática, na qual fiz a produção textual que me ajudaria depois no trabalho docente dentro e fora da escola. Foi fundamental para o ingresso e a continuidade de minha formação.

OPORTUNIDADES DE ENSINAR E APRENDER

No entanto, nas práticas escolares encontramos essa tentativa de recondução a um primum originário. Muitos professores ainda não percebem que a riqueza da escrita está na possibilidade de abrir-se para outras interpretações, desejando muitas vezes a presença do autor para uma interpretação mais confiável do texto. (Bonila, P. 123) Esse comentário da professora Bonila, vem confirmar a dificuldade que tive de concluir o segundo grau. Passei por vários vexames ao elaborar e interpretar alguns aspectos do projeto político pedagógica. Em meio a essa demanda, me convidaram para mediar, o curso de matemática financeira para a preparação do concurso público Municipal de Lapão. Neste mesmo concurso fui aprovado para o cargo de professor nível 1. Meses depois, comecei a trabalhar em uma escola da comunidade de Aguada Nova - Lapão-Ba. Neste período, precisamente em 1998, participei do curso de PCN de Matemática e de Língua Portuguesa, com carga horária de 80 horas. O curso foi ministrado pela professora Ieda Almeida, do Instituto Anísio Teixeira (IAT), na cidade de Lapão. No ano seguinte, fui designado para trabalhar em outra escola, no mesmo povoado, desta vez com alunos do ensino fundamental. Depois disso, fui trabalhar no colégio da CNEC (Campanha Nacional de Escolas da Comunidade), mas conhecido, hoje, por CEAS (Cooperativa Escolar e Assistência Social) as disciplinas de Sociologia, Filosofia, Literatura Infantil, L.P.L. B - Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. Com isso, fui adquirindo mais contato com as disciplinas e com o público. Também participei de vários eventos, representando os professores daquela entidade, tais como: jogos esportivos, seminários e desfile de modas. Aliás, no desfile de modas, eu tive que passar pelo processo de seleção de modelos. Cheguei com aquele jeito mecânico, andando feito robô. Mais fui relaxando, soltando o corpo, pegando as dicas e me acostumando com a passarela. Resultado: fui um dos melhores na apresentação do desfile. O evento foi em benefício aos alunos do 3º ano do curso de Magistério. Os formandos organizaram a festa para angariar recursos que se destinavam à solenidade no final do ano letivo. Depois de muitos acontecimentos, surgiu o concurso público de Irecê. Pensei em fazê-lo. Estudei com os colegas e partimos para fazer a prova. Dias depois, saiu o resultado do gabarito, logo em seguida, o resultado da prova. O meu nome estava na lista dos aprovados. Voltei para a minha casa e dei a notícia à minha mãe. Arrumei meus materiais e parti para o lugar desejado. Em 2001, iniciei meus trabalhos nas escolas de Irecê. Fui designado para a Escola Municipal Luiz Viana Filho, depois para a Escola Tenente Wilson e em seguida, para Escola Marcionílio Rosa. Tudo isto em apenas um mês. Essa rotatividade aconteceu pelo fato de ter sido o primeiro ano de trabalho na Rede Municipal de Ensino do Município de Irecê. Durante esta demanda, participei do estudo específico dos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) de Português, de Educação Ambiental, Oficinas e Seminários da Rede Municipal do Ensino de Irecê. Por falar em PCN, no grupo de estudos de Português, no início, não entendia muito bem como funcionava, e não sabia o porquê de tantas reuniões. Depois de três encontros comecei a entender: existia a coordenadora e todas as pessoas deveriam se envolver de um jeito ou de outro nos trabalhos dessa equipe. Na primeira semana, eu quase desisti. Mas quando observei que na sociedade brasileira atual a estrutura social se apresenta dividida em classes e grupos sociais distintos e antagônicos, comecei a pensar que nos outros grupos também estava difícil. Nesses primeiros encontros veio uma sugestão para que um professor fosse sorteado para fazer o relatório do encontro. O meu nome foi sorteado e, aceitei, é claro. Isso até que me ajudou na construção desse memorial. Naquele momento, me senti um sujeito capaz de transmitir o que a escola e a vida haviam já ensinado, além de aprender com os colegas presentes. Isso me faz lembrar da importância da aprendizagem colaborativa. Para que eu estivesse mais preparado para trabalhar com a educação, participei de um curso na Igreja Paulo Freire com Vasco Moreto. Aprendi nesse curso algo que ainda hoje está na minha mente: Nós alfabetizamos através da realidade, e se fosse sempre assim, não existia analfabetismo. Quando a gente se envolve com um setor como o da Educação e trabalha com crianças, começa a se preocupar muito mais com a vida delas. Porém, não é fácil trabalhar com o coletivo: as pessoas pensam muito diferente uma das outros e têm experiências distintas. Um tem costume de um jeito e outro tem o costume de outro modo. A gente vai articulando e fazendo a discussão. Quando o grupo de discussão iniciou sua formação, existiam vinte pessoas, aproximadamente, depois ficaram apenas doze. Percebi que o processo de discussão e organização, às vezes, não é bom nem igual para todos, principalmente para aqueles que não estão acostumados a construir o próprio raciocínio. Alguns fizeram a opção de sair, e isso teve ser respeitado. Afinal de contas, cada um tem o direito de escolher o jeito como quer viver e trabalhar. Esta foi uma oportunidade nova em minha vida. Depois de um ano de debate, eu tinha condições de fazer uma avaliação sobre os processos pedagógicos escolares, com especial atenção para as questões lingüísticas das séries iniciais. Antes, eu não tinha nem tempo para fazer isto, pois quando chegava ao centro de estudos, só pensava nas tarefas e planejamento coletivos, respeitando as particularidades. Eu confesso que aprendi a viver junto com o outro. A coordenadora tinha uma organização mais completa, até porque nós fazíamos parte da comunicação e precisávamos estar sintonizados com os fatos. Hoje a vida, em valor material ou afetivo, é diferente por nossa causa e pela chegada da UFBA (Universidade Federal da Bahia), que nos deu uma estimulada quanto à participação, à exigência dos direitos que temos. Isso só aprende quando começamos a participar e a nos sentir com direito a ter direito. Isso é ser sujeito atuante. À primeira vista, a avaliação da minha formação, embora possa parecer estranha, traduz, contudo, as representações que muitos professores têm da sua formação e profissão. As competências profissionais foram sendo adquiridas a partir das práticas e em interação com alguma investigação, ganhando significado em contexto de pequenos projetos de autoformação nas mais variadas situações. Estas qualidades ou competências, ou ainda aspectos investigativos, estão relacionados entre si, interagindo e reforçando-se mutuamente. Além disso, as produções permitem-me a aprendizagem ao longo da vida, apontando caminhos para a (re) construção das culturas organizacionais e profissionais. Todavia, convém precisar que os trabalhos acadêmicos não acontecem no/do vazio, pertencem à esfera do vivido, do agido e do visto, devendo os mesmos serem contextualizados e configurados numa perspectiva pedagógica.

UM PASSAPORTE PARA A NOVA FORMAÇÃO

Elliot (2000) assegura que ainda que seja óbvio que a tecnologia desempenha um papel importante nas mudanças sociais, é pouco provável que em cada caso tenha sido o único fator ou causa inicial. Também há pressões do tipo político, econômico e social. A tecnologia pode fazer que em certas circunstâncias haja mudanças sociais, mas não as origina ou determina como se desenvolverão. Tendo um olhar crítico sobre a concepção de Elliot, ficou clara a necessidade de participação nas oficinas que mostraram requisitos básicos para a formulação de um memorial, embasado nas produções textuais do eu - estudante, eu - professor e do eu-cursista no programa de formação. Estes aspectos serviram de roteiro para a elaboração desse texto. No entanto, foi através dele que tive a oportunidade de ser incluso no corpo discente da Faculdade de Educação, no curso de Licenciatura em Pedagogia no Ensino Fundamental, com ênfase nas séries iniciais. Este processo foi esperado com muita ansiedade, pois eu não sabia como se fundamentava um memorial. Mas devido a atuação de José Carlos e Márcea Salles, tudo ficou mais esclarecido, a ponto de trocarmos experiências com situações vivenciadas. É oportuno entendermos sobre a proposta do Projeto de formação dos professores de Irecê inserida nos Parâmetros Curriculares Nacionais do MEC, com o objetivo de superar o isolamento das disciplinas do ensino e levar a reflexão sobre a realidade vivida, assim como a mais tempo buscar o fazer através de denominações diversas, tais como: “centro de interesse”, “temas geradores”, “aula integrada”. O que mais me importa em tais propostas é a constante atenção ética e desimpedida comunicação que se estabelece no diálogo interno à instituição, entre alunos, professores e funcionários, e no diálogo externo com os familiares e com a cultura ambiente das comunidades locais ampliadas nos níveis da região do estado e do país. Para além da necessária inteireza das ciências, vale dizer que das várias articulações dos conteúdos curriculares, agradeço à educação escolar por tematizar de maneira organizada as práticas culturais e a vida, inserindo o dia-a-dia dos alunos nas práticas culturais, com dimensão ética e exigente nas amplas discussões críticas. Em minha opção pelas propostas curriculares do projeto, além de considerá-las aptas a articular áreas distintas de saber na ação conjugada de uma equipe de educadores, me senti privilegiado nos âmbitos ético, político e democrático dos valores que se fizeram presentes nas relações pedagógicas, nas atitudes e nos comportamentos, entre duas pessoas ou mais. No entanto, tive que superar o moralismo das relações pedagógicas através de normas e regras, códigos de conduta, direitos e deveres pré-estabelecidos, que apenas sustentam as ações repressoras e legítimas à exclusão social. Busquei, também, superar as distâncias das disciplinas escolares entre si e delas com o mundo da vida e com os processos que levam às aprendizagens das competências indispensáveis ao viver juntos, numa sociedade de iguais, na condição de sujeitos especialmente autônomos e socialmente capazes. Entretanto, posso afirmar que foi nas alternativas curriculares e nas orientações didáticas que analisei que às vezes, os alunos nos levam a descobrir novos horizontes e novas possibilidades. Agora percebo que não posso perder de vista que a busca de novas metodologias me permite melhorar a aprendizagem e a prática docente, fazendo com que as aulas se tornem mais atrativas e mais interessantes e a avaliação menos dolorosa para meus alunos. Nesse sentido, Canen (1999) nos diz: pensar a avaliação de forma a superar sua visão estática e classificatória significa pensar sobre o processo de ensino-aprendizagem como um todo. Significa fazê-lo trabalhar a favor da permanência do aluno no sistema de ensino, buscando uma aprendizagem efetiva e significativa. Por conta disso, afirmo que ser professor é a mais prazerosa, e ao mesmo tempo a mais dolente das profissões. Isso porque nos coloca o tempo todo em contato com jovens revoltados, um contato que no leva a aprender sempre de novo, voltados para o futuro, mas também para as mazelas e os desrespeitos por parte pessoas, a quem dedicamos nossas vidas. Meu estilo, já marcado por um incorrigível otimismo e pela esperança de um mundo melhor, tem acentuado essas características. Às vezes, me dirijo a jovem que não se sente responsável pelo mundo que herdou e pelos desvios deles, pelo mundo com que sonha e que certamente saberá construir. Em meio a tudo isto, percebo que democracia, política e ética se fazem, cada vez mais, palavras inscritas de maneira criativa no imaginário de nossos sonhos e perspectivas de vida solidária e sensível a tudo que é humano. Dentro desse contexto de universidade, tenho a sofrida e a agradável lembrança dos demais cursistas quando afirmam que o ouvir e o falar não dependem somente de manejo de certo vocabulário comum. Dependem também das vivências co-participadas em determinados contextos e das experiências do viver juntos. Apesar dos meus esforços por me expressar em linguagem acessível e de acordo com um universitário, sei de minhas sérias limitações a esse respeito.

EM BUSCA DE UMA DEFINIÇÃO

O ser humano diferencia-se de outras espécies animais principalmente por ser capaz de valorizar, refletir e interagir comunicativamente para decidir quais as melhores orientações possíveis da ação, diante dos desafios e conflitos que surgem no campo da sua interação social e temporal. (Holanda, 1995, P. 33). Até parece que no início de minha trajetória acadêmica, fiz o contrário daquilo que o autor se refere. Confesso que apresentei dificuldades na contextualização das narrativas bem como para introduzir alguns aspectos na prática pedagógica. Mas eu vi que ser professor não é só uma questão de possuir um corpo de conhecimentos e capacidade de controle da aula. Isso poderia fazer-se com um computador e um bastão. Para ser professor é preciso, igualmente, ter capacidade de estabelecer relações humanas com as pessoas a quem se ensina. No campo pessoal, como também no decorrer da vida profissional, procurei mudar a prática educativa para que pudesse alterar algumas concepções enraizadas e, sobretudo enfrentar velhos preconceitos. Contudo, posso afirmar que foi no momento da tentativa de mudança que senti a fragilidade da minha teoria, de minha organização. Porque ficou muito mais difícil mudar a prática educativa sem uni-la a uma apreciação da realidade; nessa perspectiva não se pode esquecer das concepções de pessoas, de sociedade, de currículo, de planejamento e de capacidade de julgar os fatos. Em meio a tudo isso, enfrentei tais desafios com muita determinação. Entrei no campo das discussões com base nas argumentações para que eu pudesse conhecer e refletir os conceitos da nova pedagogia, a qual, como se sabe, tornou-se importante na construção de um projeto de transformação social. No entanto, esses conhecimentos podem ser ampliados na capacidade de definir objetivos futuros e de fazer as melhores opções no dia-a-dia, identificando problemas que possam merecer a nossa atenção. Para que eu pudesse demonstrar definições no desenvolvimento pessoal, bem como profissional, apresentei uma marca essencialmente humana: o resgate da intencionalidade da ação, superando a crise de sentido e possibilitando uma representação nova de trabalho. Enquanto resgatamos as práticas da educação, nós (educadores) sempre seremos instrumentos de transformação da realidade, gerando esperança, parceria, solidariedade em torno de uma causa comum. As razões apontadas como desafiadoras, especialmente as que formaram um novo conceito de currículo, de história, de hierarquia, de mitologia, etc., são questões que considero importantes na continuidade de meus estudos. Pois elas contribuíram para que eu pudesse romper com o modelo tradicional que estava preso simplesmente a explicações racionais e científicas, em detrimentos dos temas cotidianos voltados aos saberes locais. Dentre às experiências vividas, destacou-se a oficina chamada “Saberes Docentes e Poderes em Prática”. Nela, tive a oportunidade de me situar diante dos fatos com mais autonomia, entendi as exigências profissionais. É sempre bom lembrar que para o desenvolvimento de um indivíduo na sociedade, a autonomia tem que ser considerada como algo relativo, capaz de influenciar a transformação de uma teoria que o informou numa prática social e reflexiva. Sobretudo, os conhecimentos adquiridos na formação de nível superior me ajudaram na reelaboração dos saberes iniciais, me deram mais segurança no confronto com a prática vivenciada. Tais conhecimentos foram nascidos também das teorizações, das experiências, da concretização do trabalho, e me ajudaram numa maior valorização de minha formação tanto quanto à significação social, como quanto à profissional. De certa forma, foi esse saber que acabou com a situação conflituosa no interior da escola, porque passei a descobrir o próprio caminho e superei as imposições seguidas de pressões. Nesta proposta, desde o princípio, adeqüei o tempo para esclarecimentos, para troca de opiniões e enfrentando os problemas, dando-lhes a devida importância no momento de tomada de decisão. A partir das questões elaboradas, tive que me posicionar por escrito, organizando-as em texto, bem como no debate. Penso que com essas atitudes, alcancei alguns objetivos essenciais, tais como: analisar tecnicamente um texto, analisar conteúdos, fazer rápidos relatos de como aconteceu um trabalho, ter participação ativa nas discussões, saber atuar em plenário. Num sentido geral, é através da elaboração do plano de ação que envolve o processo ensino/aprendizagem que os objetivos propostos passam a se relacionar de forma mais urgente com a comunidade educacional ou com outros grupos sociais. Projeto, plano, proposta, palavras semelhantes em suas significações, mas diferentes quando acompanhadas, respectivamente, de suas qualidades pedagógicas, sociais e políticas. Há quem se sinta mal só em ouvir essas palavras (diga-se de passagem, que eu também já senti isso), como se elas fossem apenas termos que indicassem burocracia, obrigação, incômodo nas atividades distanciadas da prática. Porém, eu creio que com um pouco mais de esforço nas pesquisas, entender diferenciar estes termos é possível, principalmente para resolver os problemas da nossa realidade e de nossa escola. Partindo desse princípio, me surgiu uma indagação: será que planejar, projetar e estabelecer métodos nos ajuda a resolver problemas na/da escola? Confesso que foi difícil relatar uma experiência positiva de planejamento, de projeção na/da escola. Por mais que eu estivesse acostumado a ouvir sobre o assunto, não dava para eu entender a dificuldade de me localizar frente a uma ação concreta, da qual tinha participado. De qualquer forma, quem trabalha num espaço escolar ou em qualquer outra instituição, poderia responder essa pergunta, mas quem poderia me dar um exemplo? Penso na vida pessoal Acordo de manhã, geralmente com vontade de dormir mais. E aí imagino: O que farei hoje? Começo meu dia no calor do cobertor, no macio da cama, a planejar e projetar o que farei, resgatando na memória o que ficou para fazer desde ontem. Lá se vão alguns minutos. Estou de uma maneira ou de outra planejando mentalmente o meu dia, tomando algumas decisões para minha ação e, para tanto, analiso essa mesma ação futura, considerando as minhas condições no momento, sejam elas físicas, psicológicas, financeiras, pedagógicas e práticas. Dependendo do número de atividades que têm na semana, chego a esquematizar minhas ações, tomando nota e registrando a ordem dos meus compromissos, organizando a seqüência dos afazeres do dia-a-dia, definindo horários, pessoas que não posso deixar de encontrar, GEACS que não posso deixar de participar, tarefas de casa que não posso deixar de fazer. Acabo assim, planejando minhas ações, não de maneira tão sistematizada, mas sim, tomando nota daquilo que é mais importante. Eu sei muito bem que algumas pessoas desistem assim que um obstáculo cruza seus caminhos. E que outras insistem em seguir uma meta depois de anos de frustração e fracasso. Confesso que, em alguns momentos, pertenci ao primeiro grupo, pois eu não assumia a responsabilidade de escolher minhas metas e persegui-las, acreditando que os resultados fossem aleatórios. Para mim, ter sucesso era como ganhar na loteria, uma pura questão de sorte, não importando o quanto houve de esforço investido. Por pensar assim, em alguns momentos, não me empenhei muito na busca dos meus desejos e objetivos. Estava percebendo que a diferença entre mim e os persistentes era, na verdade, a capacidade de manter o controle e, cheguei à seguinte conclusão: “descansar um pouco, sim. Desistir, jamais”. Em vista disso, o certo foi encarar os desafios; até porque teriam, diante de mim, vários problemas a serem resolvidos. E assim, assumi minha parcela de responsabilidade nesse processo, sem complicar muito, e parti com disposição para as atividades. Por isso, fui obrigado a fazer algumas reflexões acerca do que eu tinha para alterar em minha rotina, em minha atitude, melhorando o meu trabalho e alegrando a minha vida. Estou agora, de certa forma, organizando minhas ações, e até mesmo antecipando o meu futuro, ordenando minhas atividades, a partir das condições mais concretas, pensando nas labutas do cotidiano. Pelos exemplos aos quais me referi, observo que o ato de planejar me exige, em primeiro lugar, um ambiente certo, para depois me envolver em trabalhos conjuntos, chegando a um resultado em prol de todos. Durante o processo de formação, participei do grupo de orientação. Os encontros foram baseados nas leituras de textos, oficinas de conceitos, exibição de vídeos e outros recursos que me indicaram e possibilitaram algumas idéias básicas que serviram de sugestões para eu compor tanto o meu memorial, quanto meus diários de ciclos no período de formação. Por falar em diário de ciclo, ele esteve dentro das atividades de registro de produção, onde os cursistas relataram com impressões, avaliações da vivência ao longo do ciclo; ativaram os relatos, impressões, avaliações da vivência no curso. Nele, fiz reflexões sobre a prática pedagógica junto à equipe de orientação. Ele também, serviu para que eu organizasse minhas ações, planejamento, atitudes e estratégias de estudo que eu adotava e desenvolvia em relação às disciplinas, ao curso, à faculdade e aos professores. Conforme mostra o apêndice - síntese crítica das atividades realizadas durante os ciclos do curso. O foco dessa orientação foi a aplicação de estratégias de leitura e escrita, cujo objetivo da orientadora foi o de incentivar o uso autônomo dessas estratégias. É importante destacar que a mesma deixou claro, desde o início, que não se tratava de um ensino transmissivo, no qual iríamos repetir o que ouvimos, e sim a ampliação das práticas de leitura para variar o repertório de estratégias. Sempre que eu me mostrava confuso no momento de selecionar as informações mais relevantes, a orientadora Rúbia Margareth problematizava a situação de modo que eu retomasse aos trechos de textos lidos para descobrir as dificuldades que me inquietavam. Foi através desta técnica que pude identificar os elementos-chaves, rever os pontos que eu precisava melhorar o que estava acertando ou errando. A metodologia aplicada neste grupo de debate alterou mudanças na minha prática pedagógica, ampliou alguns conceitos didáticos, e também me mostrou sugestões adequadas para maior produtividade e qualidade do trabalho. A prática escolar passou a focalizar as situações reais da vida cotidiana, nas quais eu tive a oportunidade de transpor os objetivos meramente intelectuais e investir na alfabetização emocional, relacionamento humano, ética, cidadania, educação de valores e tantos outros aspectos necessários para a educação integral, centrada no ser e na realidade. A todo início de ciclo, o esquema de orientação apresentava uma diferença fundamental com relação aos demais ciclos, principalmente no que se refere ao grau de participação dos alunos. Mas além das mudanças captadas, cabe acrescentar que em todos eles, os temas propostos apareceram para resolver, também, os conflitos que surgiram por conta do “disse-me-disse.”. Quanto à forma de resolver conflitos, sinto-me satisfeito com o que presenciei nestas etapas. Os resultados foram muito importantes no que se referem à organização do raciocínio lógico e ao pensamento crítico, pois eu apresentava alternativas variadas quanto ao modelo educacional tradicional e ao renovador. Mas acredito que essa descoberta me causou incômodo para/em assumir o novo, pois jogar fora, o velho, para ficar só com o novo, é tentar resolver falsamente esta ansiedade. Mas também houve um momento em que me organizei para romper com o velho. Foi neste momento de conflito, no qual ao me assumir diante do novo, que surgiram perguntas do tipo: O que não quero mais? O que ainda quero? O que quero? Porém, ao entender o grau de minha participação nesta instituição de ensino, não posso deixar de citar o apoio da orientadora Rúbia Margareth. A contribuição dela foi essencial ao despertar em mim, uma coragem de criar. Além disso, entendo que seja necessário ampliar a reflexão em torno dos denominados espaços de aprendizagem, considerando todo o município de Irecê e os seus cidadãos e cidadãs como partícipes desse processo. Assim, o aspecto mais relevante de toda a minha experiência com o processo de formação, deve-se ao fato de que, ao acreditar na capacidade do meio de estabelecer diálogos e proporcionar alternativas de “entrada” nos assuntos, acabei por criar, em conjunto com os colegas e alunos, um método de ensino extremamente alinhado à própria orientação da Faculdade. Desse modo, o memorial transformou-se num documento educacional, que ofereceu as devidas informações aptas para o estilo do saber, no qual eu poderia ter a oportunidade de ver de perto o meu avanço como discente desse curso, e em especial pelo exercício docente que realizei nas escolas que passei. Esses são os fundamentos contidos na memória dos fatos vivenciados, que partem dos princípios de minha relação com o mundo,começando pela família e primeiros passos da minha vida escolar e segue durante a iniciação no mundo acadêmico, em especial nas oportunidades decorrentes dos estudos de graduação em Pedagogia. Além disso, no teor desse texto está a tentativa de expressar a alegria de sentir-me em meio a um processo dinâmico, instável, rico de possibilidades. É também a alegria do sentimento de estar acompanhado, de ter compartilhado sonhos, de ter realizado desejos e deter tranqüilidade e vontade necessária para continuar a viver novas histórias junto com outros sujeitos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensin Médio. Brasília, 1999.

SÍNTESE CRÍTICA DAS ATIVIDADES REALIZADAS DURANTE OS CICLOS DO CURSO.

"ABRINDO OUTROS CAMINHOS PARA NOVAS REALIZAÇÕES E APRENDENDO COM O TEMPO"Ao 9 Zabalza (1998) diz que escrever o próprio diário, seja ele pedagógico ou de outra natureza qualquer, é uma atividade para o auto conhecimento e a melhoria do trabalho humano; constitui uma espécie de atividade formativa integral da qual resultam importantes benefícios profissionais. 9 Foi com base nos argumentos de Zabalza, que descrevi e analisei no presente trabalho uma experiência prática/pedagógica no contexto do ensino de graduação em Pedagogia - Séries Iniciais da Universidade Federal da Bahia, (UFBA). A questão central nesta experiência foi buscar uma reflexão nos diários de ciclos, no intuito de apresentar as possíveis formas de aumentar a motivação do meu trabalho em sala de aula. No Programa de Formação Continuada para Professores do Município de Irecê, me propus a desenvolver uma experiência de uma experiência de prática/pedagógica, exercida em uma dinâmica que foi fundamentada pelo respeito aos processos cotidianos e a valorização plena do sujeito. O projeto/Irecê tem me auxiliado nas produções acadêmicas, no sentido de conquistar e firmar a minha autonomia como aluno daquela instituição, criando um clima psicologicamente agradável, onde professores e equipe se sentiram responsáveis por aquilo que aconteceu, inclusive em relação ao desenvolvimento dos seus orientandos. De certa forma, foi ele quem me ajudou, dentro do ambiente de trabalho, a resolver uma situação conflituosa da descentralização, e através disso, permitir argumentos de forma consistente e produtiva com a comunidade e com os órgãos dirigentes. Vale lembrar que toda autonomia é relativa; o discurso sobre ela não pode ser usado para justificar ferimentos sentimentais, nem tão pouco, isolamento social. Os diários de Ciclos visaram a integração das atividades e dos projetos desenvolvidos na minha prática pedagógica. Pretendi ainda, me apoiar em um processo de intervenção profunda e coletiva nas práticas cotidianas como professor, no interior de cada escola que trabalhei. Sei que é importante a elaboração dos planos em ação, através de uma reflexão conjunta com os alunos e demais envolvidos, para que a escola possa nortear seu trabalho e, assim, cumprir suas finalidades. Para Thayer (1975 p. 166), ”a situação ideal para a comunicação existe quando o receptor deseja ou necessita aquilo que o emissor pretende comunicar a ele”. O ensino não pode ser uma exceção. Para mim, nessa caminhada, o ato de avaliar não implicou somente na aprovação ou reprovação do educando, e sim, na orientação permanente para o meu desenvolvimento. Todavia, foi preciso que eu tivesse cada vez mais acesso em como utilizar novas tecnologias no meu dia-a-dia, para que eu me sentisse seguro, ao transmitir aos alunos confiança e fazendo com que todos participassem, ativamente, das aulas com atividades orientadas. Mas os fatos se tornaram um pouco difícil, pois nem sempre o que eu planejei, os alunos cumpriram, mesmo eu dando idéias e sugerindo atividades diferentes, esperando que esse quadro se revertesse. Kernan (1994, P. 69) ressalta que o radicalismo das tecnologias de comunicações não provoca apenas transformações nos usos populares e nas práticas econômicas, mas também na consciência. Em meio a tudo isso, me apeguei muito ao desenvolvimento de atitudes favoráveis, diante do uso das tecnologias na educação, como elementos fundamentais de diferentes possibilidades de formação dos cidadãos do mundo contemporâneo, praticando o processo de ensino e aprendizagem voltado para a busca, análise e tratamento de informações. Uma prova disso, foi o GEAC ( grupo de estudos acadêmicos) de Tecnologia e Práticas Pedagógicas, no qual estudei e aprofundei os conceitos de comunidades virtuais e interatividade. Com relação ao primeiro tema, percebi que existem alguns empecilhos que atrapalham na subsistência de um certo grupo. Vi que o grande desafio está na criação de artifícios que aproximam os alunos do mundo digital e, que outro ponto de dificuldade está na discussão de temas que tratam do interesse dos leitores e participantes dessa comunidade, que as vezes, não sabem nem entendem a linguagem virtual. Com isso, vejo que não é simples manter uma comunidade virtual, na qual existem pessoas que mal se conhecem. Já a interatividade apresenta característica de envolvimento público. A respeito desse tema estudado, me senti neutralizado, sem saber como inserir meus alunos num processo de conhecimento das tecnologias. Mas, visando a facilidade de procedimento e a transmissão de aprendizagem utilizada em novos campos, pensei em criar e-mails para eles. Só depois daí, os coloquei em contato com as informações apropriadas referentes ao objeto de estudo. No meu caso, a disciplina de História. Vale salientar que dentro desse projeto, orientado pela Professora Maria Helena Bonila, o primeiro aspecto ficou voltado ao fato da simples navegação, num universo de conhecimento com o monitor, o mouse, e com outras ferramentas. Confesso que não foi preciso uma aprendizagem efetiva por parte dos alunos, fazendo-se necessário da parte deles um envolvimento nas atividades e tarefas. O segundo aspecto referiu-se ao domínio pela parte dos alunos dentro dos Ambientes Colaborativos, colocando suas estratégias de aprendizagem a partir da capacidade de aprender a aprender, através de pesquisas, da interação e construção partilhada e conjunta do conhecimento. Para a construção do projeto, dentro das novas tecnologias, nem tudo ocorreu às mil maravilhas. Alguns fatores dificultaram o processo. O transporte por exemplo, foi o fator que nós (alunos e professores) sentimos mais resistência em adquirir. Diante disso, fiquei preocupado, e ao mesmo tempo com medo que esse plano de/em ação se esfriasse e caísse no esquecimento, na desilusão, vendo depois, acabar tudo aquilo que foi feito com intuito de reforçar as técnicas virtuais. Nesse contexto, desenvolvi várias situações para que os alunos percebessem os passos para criar e-mails; saber usá-los na sua formação, tendo como suporte as informações comentadas, bem como refletir sobre as problemáticas decorrentes das novas abordagens em aula , particularmente nos temas de História; emitir suas opiniões nos ambientes de aprendizagem, assim como fazer cadastros nos mesmos; utilizar a internet como meio de produção colaborativa; Pesquisar temas específicos ou espontâneos. Outro aspecto que contribuiu com a minha prática pedagógica, foi a Atividade 525 "Um encontro com a matemática". Nela, estudei a matemática enquanto ciência e, sua importância para o desenvolvimento do raciocínio lógico. Fiz reflexão sobre a necessidade do entendimento da presença da matemática no cotidiano, percebi que isso é sempre possível, pois sua finalidade é desmistificar sua incompreensão. Na visão da maioria dos estudiosos nesta área, o desenvolvimento do estudante está muito abaixo do esperado. Porém, de forma muito triste, eu vejo essa visão ser confirmada nas escolas; isso por causa dos modelos de avaliação, aos quais os métodos de ensino têm sujeitado os alunos. Foi a partir dessa constatação, e também com base nos aspectos abordados na oficina de matemática, que pensei sobre as seguintes questões: Qual o papel da matemática na formação dos alunos que estudam o ensino fundamental? Em que medida o que estou ensinando em sala de aula é coerente com esse papel? O que precisa ser modificado em minha prática para que a matemática venha cumprir esse papel? Eu sempre soube que estas questões são essenciais para o estudo da matemática. Só que eu não percebia a importância desse papel, tanto no início, quanto no decorrer da aprendizagem. Na verdade eu sempre deixava para depois. Creio também, que para contemplar as indagações acima citadas, tive que realizar exercícios que estimulassem os cálculos mentais dos meus alunos, e que eles pudessem operar com e sem a calculadora. Esses procedimentos foram vantajosos porque foram colocados de maneira bem prática, pois contribuíram no desenvolvimento do raciocínio, nas percepções dos padrões numéricos, nas avaliações dos preços e valores, bem como entender os conceitos matemáticos. Vejo que mais do que cálculos, a matemática é imaginação. Para calcular hoje em dia, existem as máquinas. O mais importante no trabalho matemático é o raciocínio, a capacidade de resolver problemas e usar as idéias para explorar as situações mais diversas. Os relevantes não são apenas os cálculos, e sim, saber o que fazer com eles. Para isso, é fundamental o sentido dos números e o espírito crítico com relação aos resultados. E tudo isso foi comprovado no plano de ação que desenvolvi com alunos de terceiro ciclo. Nesse estudo, os alunos passaram a conhecer a matemática que ensino, entenderam as características do meu trabalho e perceberam que o papel do professor é de despertar uma criatividade pedagógica aliada à matemática. Como o plano de ação tratava da utilidade do ábaco, vi que além de ser útil no processo das operações matemáticas, ele ajudou os alunos na percepção e na importância do “vai um” ou do “toma um emprestado”. Por isso, resolvi aplicá-lo como objeto de estudo, aprimorando a técnica de cálculos dos alunos, bem como na compreensão do sistema decimal. Nessas condições, os alunos resolveram desafios envolvendo adição e subtração; discutiram a idéia do famoso "empresta um"; compreenderam o sistema decimal; explicitaram o próprio raciocínio, procurando compreender o pensamento do colega. Trabalhei com o ábaco numa sala de terceiro ciclo (quinta série do Ensino Fundamenta), composta de 30 alunos. Articulei a proposta de trabalho para os alunos, dividindo-os em três grupos de dez, apresentando o ábaco para eles, e fazendo algumas demonstrações com o uso do dado para complementação da atividade. Em seguida, expliquei o porquê do “vai um” e do “toma um emprestado.” Logo depois, propus alguns problemas envolvendo a adição e a subtração; e aí além da idéia do “vai um” criou-se também a do “toma um emprestado”. Nesta atividade, o ábaco também ajudou na posição do sistema decimal. Vários desafios foram lançados para os alunos responderem. Mas em determinada situação, eles se confundiam ao demonstrar o próprio raciocínio. Entender o pensamento dos colegas, foi algo que deixou os alunos tímidos na apresentação do referido tema. Isso foi muito difícil no desenvolvimento da atividade. Os objetivos propostos não foram completamente alcançados por conta do descaso de alguns alunos. Não sei se faltou mais incentivo de minha parte ou se foi falta de vontade deles por não terem conhecimento do objeto estudado. Porém, confesso que alguns acharam o ábaco um instrumento sem valor conceitual. No entanto, para eles, fazer cálculos mecanicamente, era melhor. Respeitei as idéias deles, e procurei outra forma de dinamizar a aula. Contudo, percebi que em cada parte que os dados eram jogados, eles corriam e anotavam, com medo de errar. Mas valeu o esforço, pois eu aprendi a trabalhar com situação um pouco desconfortável. Em todos os ciclos, eu frisava a minha participação e o desenvolvimento da professora Margarete no grupo de orientação. Ela criou estratégias do cotidiano escolar, com referências básicas que servissem de sugestões para eu compor o diário; promoveu situações de aprendizagem de habilidade na leitura e na escrita, cujo objetivo foi o de incentivar o uso autônomo dessas estratégias. Além disso, ela usou como metodologia: exibição de filmes históricos; apresentação em plenária; mesa redonda; dinâmicas dos fragmentos. E esta experiência unida ao processo que eu tinha vivido, confirmou a idéia de que a escola não pode ser propriedade nem dos professores, nem do diretor, mas sim, a de incluir toda comunidade educativa. O que mais me chamou à atenção foi o desenvolvimento das discussões que me serviram de referência para nortear o meu trabalho e as minhas opiniões em torno das atividades previstas no projeto pedagógico. Sem perder de vista a metodologia aplicada, a mediação me auxiliou num possível aperfeiçoamento científico, atualizando e organizando os pré-requisitos do contexto universitário, dando suporte nas argumentações, com base na leitura de textos oficina de conceitos exibição de vídeos sobre a escravidão no Brasil e sistema de cotas. O foco dessa orientação foi a aprendizagem de estratégias de leitura e escrita, cujo objetivo da orientadora foi o de incentivar o uso autônomo dessas estratégias. É importante destacar que a professora deixou claro desde o inicio que não se tratava de um ensino transmissível, no qual iríamos repetir o que ouvimos, e sim a ampliação das práticas de leitura e escrita para variar o repertório de estratégias. Umberto Eco (1979 p. 152) diz que "quanto maior for a informação, mais difícil comunicá-la de algum modo; quanto mais claramente uma mensagem comunica, menos informa". A interpretação desse escritor me remeteu a momentos de estudos acerca educação através da arte me possibilitando discussões e análise das possíveis relações entre conhecimento e poder, e da forma como eles se relacionam nos espaços educativos e nos demais setores sociais ao longo do tempo e nos dias atuais. A fala de Umberto Eco contribui com o ajustamento de alguns estilos literários. E foi com base nisto que na Atividade 22 - Educação e teatro: "Educação através da arte", me aliei às técnicas e estratégias aplicadas ao exercício da memorização. Foi ali que percebi que a memória é uma construção pessoal que cada cursista realiza, graças à ajuda que recebe de outras pessoas. Tendo esta percepção, senti-me motivado a trabalhar em minha escola, alguns exercícios de memorização que permitissem aos alunos lembrar os resultados, responder às perguntas com mais lógica, bem como fazer comparações entre diferentes pontos de vista. Assim, eu estaria refletindo as dificuldades existentes entre minha prática e a forma pela qual os meus alunos não apresentavam informações apropriadas para cada uma das questões. E a partir deste trabalho realizado, pude adotar novas atitudes que favoreceram tanto o meu desempenho, quanto a interpretação dos alunos. Das análises realizadas até o momento com relação ao curso, merece destaque a performance de duas das professoras envolvidas no projeto, elas manifestaram alteração de visão, tanto acerca do exercício sobre o próprio trabalho, quanto a respeito da própria tomada de decisão diante de seus orientandos. Essas professoras são Márcia Sales e Margarete Dourado. Elas demonstraram prática como facilitadora do exercício, não apenas no sentido de indicar meios positivos para que eu conseguisse algo, mas como resolver a complexidade, transformando-a num processo simples. Também aplicaram recursos de como tomar distância ou ver de fora o próprio trabalho no que se refere os problemas a serem enfrentados, erros e acertos na execução de uma atividade, pontos frágeis no próprio desempenho, relação entre o planejado e executado, percepção de detalhes do cotidiano das aulas, atuações diferenciadas, busca de soluções para as atividades e a possibilidade de refazê-las. As atividades: 422 - Investigação cultural. 403 - A Eqüidade no Contexto Social e 415 - Cidadania e Legislação, foram trabalhadas por pessoas diferentes, mas elas ressaltaram tópicos da mesma natureza... Nestas, os processos de alcance das políticas públicas afirmativas, seus limites e conseqüências para a promoção da eqüidade no contexto social do Brasil, com implicações na atuação de profissionais em educação, bem como cidadãos, foram analisados como base na legislação civil e educacional; constituição federal; nos programas municipais; estaduais e federais. Enquanto de um lado, Rita Dias falava da diversidade e do multiculturalismo, enfatizando os modelos criados e reproduzidos para garantir privilégios e negações de direitos baseados nas diferenças, Sílvio Humberto, do outro, reforçava a eqüidade no contexto social, pregando o papel dos movimentos sociais, a inserção do negro no mercado de trabalho. Esta dupla deu um show em educação multiculturalista. E foi através disso, que percebi a eqüidade como algo que consiste em tratar a todos de maneira igual, gerando vantagens concretas simbólicas; já a iniqüidade baseia-se no desperdício de talentos, excluindo o indivíduo, socialmente, não aproveitando suas competências e suas habilidades. As temáticas abordadas parece que mexeram com uma parte amortecida do meu cérebro. No decorrer das discussões, frisei que a cidadania é uma condição na qual o indivíduo tem absoluto prazer de desfrutar dos seus direitos políticos e civis. Além das oficinas, ressalto o estudo literário: Dom Quixote de La Mancha. Em decorrência a essa aprendizagem, resolvi criar o projeto "Dom Quixote no ponto de cultura", cuja discussão surgiu no grupo de estudos literários da atividade 516 do ciclo cinco, em continuidade no ciclo seis. Ali percebi que essa obra em formato adaptado, poderia ser recomendada para crianças e adolescentes. A minha intenção foi fazer com que os alunos demonstrassem alguns aspectos destacados e um elevado discurso que elogia o idealismo, o anseio de justiça, a fantasia nos seus sonhos e objetivos. Nesse patamar, ofereci aos mesmos, a oportunidade de estar em contato com as adaptações do livro Dom Quixote. incentivando-os na organização dos momentos livres de leitura. Pensando numa perspectiva de articulação entre as possibilidades da relação humana e do gosto pela leitura, permiti aos participantes, diversas interpretações da obra. Em seguida, os ajudei a construir e desenvolver competências e habilidades referentes à leitura. Como estratégias, fiz cartazes anunciando as inscrições no grupo literário; confecção de mural com diversas informações a respeito do livro; preparação o de slide para a apresentação da obra. Já na metodologia, pensei em dinâmicas para conhecimento do grupo; cruzadinha com poemas; leitura de imagens; leitura de textos (com conciliação); ordenação da história através de desenhos em lixas; Leitura em jogral, bem como diários de leitura. Todavia, o que o diário de ciclo me interessou do ponto de vista pessoal, foi como saber enfrentar o processo e identificar os bons e maus momentos; tipos de impressão que ficaram ao longo de cada ciclo. Quando, nele escrevia, eu estava recolhendo dados e impressões sobre o meu trabalho e sobre os momentos que eu estava vivendo, a fim de poder voltar a eles em outro momento e analisa-los com tranqüilidade. Com isso, o diário foi uma a experiência de contar o que a própria pessoa fez e de contar a si mesmo, revelando recursos de grandes potencialidades, expressando: um fato de se tratar de um meio, que implica escrever; um fato de se praticar, que implica refletir; um fato de nele ligar o significativo e o mencionado; um fato de identificar problemas, que implica resolvê-los; um fato de questionamentos, que implica merecer respostas novas e inaugurais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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