O ensino superior vai mudar

Reitor da Federal, Naomar de Almeida explica a proposta da “Nova Universidade” que será discutida em Brasília

Proporcionar mais segurança na escolha profissional, aumentar o número de vagas e garantir interação entre os alunos e professores de todas as áreas do conhecimento. O conceito da Universidade Nova, que deve ser implantado na Universidade Federal da Bahia (UFBA), em alguns anos, ainda está em discussão e promete mudança radical na estrutura conhecida de acesso ao ensino superior.

A principal mudança se dará com a não-obrigatoriedade de escolha da profissão que se deseja seguir ainda entre os 17 ou 18 anos de idade, como acontece na maioria dos casos, hoje. “A mudança será incentivada. Atualmente a escolha da profissão é precoce e a especialização também. A grade curricular atual é muito rígida e não permite que o aluno tenha um conhecimento mais amplo e completo. Não permite descobrir como funciona outros setores da universidade e outras formas de pensar”, disse o reitor da Ufba Naomar de Almeida Filho. Na Universidade Nova, segundo ele, espera-se que evasão, que hoje está em 37%, seja reduzida, já que o candidato não precisa entrar na universidade com uma profissão em mente.

Não haverá também a exigência de pré-requisito para cursar algumas disciplinas. “Iremos superar isso. A academia é o momento de experimentar. Queremos uma forma não linear de organização do conhecimento”. A expectativa do reitor é que um projeto unificado para todo o País seja o resultado do 2º Seminário Nacional da Nova Universidade, em Brasília, nos dias 30 e 31 de março, quando estarão reunidos reitores de 17 universidades do País.

Dentre outras vantagens, o reitor ressalta que o novo processo é mais racional e eficiente. “O ensino superior como nós conhecemos é pouco eficiente. Com o novo modelo, a universidade será bem mais organizada. As vagas devem aumentar, considerando-se que não serão mais por curso e sim pela capacidade da instituição como um todo. Os departamentos irão interagir mais e a circulação dos alunos será ampliada”, disse ele.

A proposta da Nova Universidade para a Ufba ainda será submetida ao Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe). As mudanças devem ser apresentadas até março do ano que se pretende colocar o novo projeto em prática.

PROCESSO – A Nova Universidade é organizada em três ciclos: bacharelados interdisciplinares (BI), propiciando formação universitária geral; formação profissional em licenciaturas ou carreiras específicas; e formação acadêmica científica ou artística de pós-graduação. Assim, ao concluir o 2º grau, os alunos irão iniciar o ensino superior em Bacharelado interdisciplinar (BI), com formação geral para todos os alunos em dois cursos-tronco obrigatórios, mas, com parte da grade escolhida pelo aluno em três trechos temáticos (Cultura Humanística, Artística e Científica). Após três anos, o aluno recebe o título de bacharel e pode optar por fazer uma licenciatura, cursar uma das profissões regulamentadas ou ir direto para a pós-graduação. O desempenho do bacharel em artes e humanidades ou em ciência e tecnologia, nos primeiros anos, pode ser utilizado como avaliação.

Segundo Naomar, o processo de ingresso ao BI pode ser feito através de um exame específico criado para tal fim ou pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), após ser reformulado. “O Enem tem algumas limitações. O nível de conteúdo é variável. Tem ano que é fácil e tem ano que é difícil. Precisamos dar mais estabilidade antes de poder usá-lo em substituição ao vestibular”, diz.

Para a entrada na segunda etapa, quando seria definida a carreira a ser seguida, surgem outros caminhos. Aproveitar o rendimento de cada aluno durante o período do BI, criar um programa e avaliação seriada ao final de cada ano ou um exame único, como se fosse um minivestibular por área. “Cada faculdade definiria seu critério de seleção”, observou.

O reitor afirma que toda a proposta está em processo de elaboração e aberta a sugestão de toda a comunidade acadêmica. “A mudança será muito radical e irá mexer não só na estrutura da Ufba, mas com toda a sociedade que está acostumada com um sistema fechado e enraizado. Isso torna a aceitação bem mais difícil”. Um grupo técnico da Ufba já está elaborando a estrutura curricular do BI, dos cursos profissionais, do processo seletivo e do preparo da universidade para se adequar à nova realidade como a alteração da estrutura dos colegiados. “Não terá mais a necessidade de se oferecer a mesma disciplina em vários departamentos. O curso que oferecer uma disciplina poderá receber alunos de qualquer área”, disse o reitor, Naomar de Almeida.