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"As drogas, mesmo o crack, são produtos químicos sem alma: não falam, não pensam e não simbolizam. Isto é coisa de humanos. Drogas, isto não me interessa. Meu interesse é pelos humanos e suas vicissitudes."
Antonio Nery Filho

IV Parada do Orgulho Louco atrai 1,5 mil pessoas em Salvador

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"Quem é diferente de quem?". A indagação feita pelo usuário João Raimundo dos Santos é algo que ainda paira no ar quando se trata da garantia de direitos de cidadania às pessoas com transtorno mental no país. A Luta Antimanicomial, formada por usuários, familiares e profissionais de saúde, tem alcançado inúmeras vitórias ao longo dos últimos 22 anos, como, por exemplo, redirecionar a Política Nacional de Saúde Mental, mas há muitos passos ainda a serem dados para consolidar o modelo substitutivo que, segundo os seus defensores, é irreversível.

Por estes motivos - a comemoração e as reinvindicações - foi que o Coletivo Antimanicomial da Bahia organizou, no último dia 21, entre o Cristo e o Farol da Barra, a comemoração do dia da Luta Antimanicomial (18 de maio), através da realização da quarta edição da Parada do Orgulho Louco, que atraiu cerca de 1,5 mil participantes.

Como nos anos anteriores, a parada contou com o entusiasmo e a alegria de um público composto por usuários e profissionais dos serviços, familiares e estudantes universitários, vindos de diversos serviços da capital e do interior. A estudante de psicologia, Iana Aguiar (17) afirma que já esperava que a parada fosse animada, mas não a militância. "Fiquei sabendo da Luta Antimanicomial com meus colegas, mas não sabia que ainda estava ainda tão viva", declarou a estudante.

Preconceito x Cidadania

Para a coodenadora do CAPS Liberdade, Andrea Rios, a atuação dos usuários é mais pela conquista deles que pelo reconhecimento social. "O preconceito diminuiu pouco, mas ainda assim os usuários têm demonstrado cada vez mais força, mobilização e organização para superar as barreiras da sociedade e alcançar seus direitos enquanto cidadãos", considerou Andrea.

Uma das consequências desta politização dos usuários, segundo Andrea, foi a predominância deles nas decisões e organização da Parada. O diretor da AMEA, Josueliton Santos, aponta para "a reforma psiquiátrica como um dos aspectos que possibilitou a luta pela garantia da liberdade e de cidadania dos usuários". A AMEA é uma das organizações co-responsáveis pela realização da Parada do Orgulho Louco e, recentemente, lançou o Guia Loucura Cidadã.

Investimentos Públicos na Rede

Quanto à situação atual da implantação dos serviços substitutivos na Bahia, o psicólogo Marcus Vinícius vê a falta de investimento das gestões públicas como raiz de todas as deficiências hoje enfrentadas pela Reforma Psiquiátrica. Exceto do Governo Federal, pouco se vê a participação do estado e dos municípios na melhoria da infra-estrutura dos serviços e em investimentos em segurança, equipamentos para oficinas e ampliação dos quadros de profissionais".

O secretário de saúde do estado, Jorge Solla, se fez presente na Parada e avaliou os esforços do governo para ampliação da rede no estado. "Nos últimos quatro anos, em parceria com os municípios, triplicamos o número de CAPS e como consequência, temos leitos psiquiátricos sobrando nas cidades de interior e isto reflete o alcance da Reforma Psiquiátrica na Bahia", declarou Solla.

Paula Boaventura


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