POR UMA UNIVERSIDADE SEM RACISMO

A história do Brasil tem sido para a população negra, a história da exclusão. Marginalizada, vitimada pela violência, pela falta de saúde e de emprego, impedida na produção do conhecimento cientifico e fora das universidades.

Depois de quatro séculos de exploração, a população negra foi abandonada pelo Estado, que utilizou a importação de mão de obra européia para o seu novo projeto de desenvolvimento nacional. Empurrou negros e negras para a margem da sociedade brasileira, viciando a estrutura do Estado, suas instituições, em congruência a um movimento global de ascensão do capitalismo e fomentação de regimes mais cruéis e eficazes de opressão social.

Os movimentos políticos de contestação, ao contrário do que a História se acostumou a repetir, não começaram com a luta dos imigrantes e os movimentos operários no Brasil. Iniciou-se com a subversão de negros e negras que não se conformavam com o sistema de escravidão e passaram a ser opositores a política do Estado, construindo como pólo de resistência na figura, sobretudo, dos Quilombos. A resistência também era feita nas irmandades, nas manifestações culturais, na luta pela igualdade de direitos.

No século XX essa luta ganhou um novo impulso com o Movimento pelos Direitos Civis nos EUA nos anos 60 e a discussão das políticas de Ações Afirmativas em todo o mundo. No Brasil, na década seguinte surge o Movimento Negro Unificado com figuras como Edson Lopes Cardoso e Lélia Gonzalez. Um novo fôlego na luta pela igualdade racial no Brasil é dado pela fundação do MNU que daí passa a discutir de forma mais especifica o caráter do racismo brasileiro e a propor políticas especificas para a população negra.

O maior desafio para pensadores, pensadoras e militantes da luta pela igualdade racial é justamente desmascarar o racismo, dissimulado sob o véu da democracia racial. Este mito tem justificado frente à sociedade brasileira políticas universalistas que de fato reproduzem a lógica racista do sistema, mas aportam-se em princípios como democracia e igualdade. Partindo destas premissas, não se leva em conta a situação de desigualdade que a população negra já encontra dentro do sistema, como a falta de acesso à educação básica de qualidade, a um sistema de saúde eficaz, a empregos.

Em 2004, a Universidade Federal da Bahia aprovou, graças a pressão do Movimento Negro e de entidades do movimento estudantil, a reserva de vagas para afrodescentes e indiodescendentes. Um novo cenário surge na universidade deste então. Demos um passo importante na democratização da universidade, possibilitando que uma parcela significativa da população participe da produção do conhecimento científico que historicamente lhes foi negado. Conhecimento este, ainda eurocêntrico e elitista, que nega o papel essencial que a comunidade negra desempenhou na construção do Brasil, tanto política, como material e culturalmente; que deturpa sua história, suas religiões, manifestações culturais; que mascara o racismo brasileiro e forja assim uma intelectualidade que não compreende as dimensões subjetivas e materiais que o racismo brasileiro comporta.

Devemos discutir uma nova idéia de produzir conhecimento, uma outra epistemologia, e fazer com que este conhecimento seja democratizado, popularizado, como um bem da sociedade. Devemos fazer a universidade dar um passo a frente. Pensar políticas efetivas de permanência para os/as estudantes cotistas. Medidas que permitam estes/as estudantes darem um bom andamento em seus cursos, terem acesso às bolsas de pesquisa, à extensão, a outras atividades acadêmicas. Precisamos discutir uma assistência estudantil que atenda às demandas dos estudantes que delas necessitam.

Gestão Quilombo Kizomba: Ousar Ser Diferente
2007-2008

-- FabricioSantana - 18 Jul 2007

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