UFBA NOVA: A REFORMA UNIVERSITÁRIA EM CURSO

Nossa Opinião

No último dia 29 de Setembro foi apresentado à Comunidade Acadêmica, no Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão, a proposta elaborada pelo nosso Reitor, que coloca em curso a Reforma Universitária, que o mesmo havia garantido em sua posse. (Veja ppt aqui a apresentação de slides do Reitor)

O oculto Projeto UFBA Nova, apresentado a toda a mídia Nacional como sendo consenso na Universidade, sofreu dura crítica dos estudantes no referido Conselho. O que deixa clara a posição autoritária da Administração Central de implementar a todo o custo uma reforma contra a qual passamos 114 dias em greve, no ano de 2004. O que vale destacar é que, nas diretrizes gerais para a educação superior, a flexibilização dos currículos, eixo central da proposta do reitor e, que significa a implementação desses ciclos básicos de formação geral ou bacharelados interdisciplinares, já se encontrava prevista neste mesmo ano.

Este projeto é baseado no Protocolo de Bolonha. Uma proposta européia que foi discutida por quase uma década, com mais uma década para implementação, até o ano de 2010. A maior surpresa é que, sem um debate com a sociedade, de acordo com o nosso Reitor, a meta dele para implementação do UFBA Nova é o ano de 2008.

A Referência do Senhor Reitor, o Protocolo de Bolonha, assinado em 1999, tem em seus objetivos centrais alguns pontos importantes também assinalados pelo mesmo em sua apresentação. Vale destacar que este processo foi pensado a partir da necessidade da União Européia de se consolidar enquanto bloco econômico para competir com a provável ALCA. Diante desses elementos, buscamos tecer as críticas e fazer os questionamentos em cima desses pontos para que possamos iniciar uma discussão.


A Competitividade:

No Protocolo de Bolonha fica muito claro que o objetivo de sua implementação é aumentar a competitividade pelas vagas e aumentar a atratividade a nível internacional para as Universidades Européias. No caso da nossa Universidade não seria diferente. Os Estudantes seriam ranqueados e, de acordo com o seu escore, fazer a escolha do curso. Não resolveria o problema de falta de vagas nas Universidades Públicas e acentuaria o individualismo.


A Adaptação as Demandas do Mercado de Trabalho:

Entre os objetivos do Protocolo de Bolonha está a adaptação das Universidades ao novo modelo de mercado de trabalho e que, o primeiro ciclo deve ser obrigatoriamente voltado para este mercado. Sendo assim é necessário garantir conteúdos que sejam voltados às suas exigências. Perguntamos então: Onde fica a Formação Humana? Para que tipo de sociedade estamos formando os nossos profissionais?


A Mobilidade:

De acordo com o Processo torna-se necessário que as estruturas educativas possam ser equivalentes nos diferentes países. Que tanto o empregador, quanto o estudante possam fazer valer os diplomas em qualquer lugar do mundo. Além disso, o nosso reitor deixa claro que, caso o estudante não adquira o escore necessário para a sua entrada no curso, o mesmo pode parar no ciclo básico e, então, sair com a formação de Bacharel geral. Pergunta-se: Bacharel em que? Para atuar onde? Qual a profissão desse estudante? Nem para o mercado de trabalho essa formação serve. Teremos então uma legião de jovens engrossando as fileiras do exército da reserva de mercado. Ou seja, o afunilamento que antes era só no vestibular, passa a ser também dentro da Universidade.


O Aumento de Número de Vagas:

O nosso reitor busca aumentar as vagas na Universidade Pública de uma forma bastante estranha e superficial. A fórmula do Reitor é a seguinte: Hoje a nossa Universidade tem uma relação de 12 alunos para um professor. O Reitor acredita que a alternativa para aumento dessas vagas seja alternar essa relação de 60 para 1. Ou seja, teremos turmas lotadas. A Exemplo do que acontece nos cursinhos pré-vestibular. Pergunta-se: Haverá contratação de professores para este novo projeto? Como garantir o processo de construção de conhecimento com salas lotadas? E a sobrecarga dos professores nessa nova Universidade?


ENEM como processo seletivo:

Na avaliação do nosso Reitor e também das diretrizes nacionais para a educação superior, o vestibular é um processo ultrapassado de seleção. Logo, entramos no primeiro consenso desde o início das discussões. Novamente a divergência se instala sobre como resolver este problema. Para oeste reitorado, o ENEM é um meio de democratizar o acesso e garantir que o estudante não precise decorar conteúdos para adentrar a Universidade. Contudo, esta prova, assim como o vestibular, não é condizente com a realidade da escola pública. Além da certeza de que as vagas, ampliadas sem nenhuma política publica para garantia de qualidade e permanência, serão ocupadas, em grande maioria, pelos estudantes das escolas particulares. Portanto, cai por terra o argumento de democratização da Universidade. O que fica claro é o ranqueamento, que agora é duplo e a exclusão da classe trabalhadora das Universidades públicas. Pergunta-se: O que faremos com o sistema de cotas?

Desse modo concluímos que este modelo não nos contempla. Que a saída para a Universalização do ensino é acabar com processo do vestibular. Não para implementação de um outro modelo de seleção, mas sim, para garantia de acesso a todos na Universidade Pública, Gratuita, de qualidade, Laica e referenciada socialmente, direito de todos e dever do Estado. Acreditamos que esta proposta tapará o sol com uma peneira e que a luta contra essa e qualquer outra reforma que não atenda aos nossos interesses deve e vai ser barrada pelo movimento de resistência. Desse modo, convocamos os DA�s e CA�s da UFBA não só a lutarem contra esse projeto que é a expressão local da Reforma Universitária em curso. O caminho agora é a luta pela retirada do projeto de Lei do Congresso. Nesse sentido, chamamos todos a resistir a mais essa investida de flexibilização do ensino e fragmentação da formação acadêmica.


Outubro, 2006 - DCE UFBA - GESTÃO O COLETIVO

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