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Relatório da Segunda visita Escola Dorilândia

Assunto: Inclusão de crianças portadoras de necessidades especiais no ambiente regular de ensino

Daniela Gomes Isabela Teixeira Joseilda Sampaio Thalita Araújo

Para realização desta fase do trabalho a princípio realizamos uma reunião para decidirmos o tema que iríamos abordar como objeto de estudo e então levantarmos questionamentos e obter mais informações acerca deste tema escolhido.

Após a elaboração das questões levantada, decidimos a quem iríamos procurar estas informações, então foi decidido entrevistar a coordenadora da Escola Dorilândia, Adriana Pinto Lobão M. de Souza, Pedagoga formada pela Faculdade Olga Metting, é a pessoa que esta diretamente relacionada com o trabalho dos professores, com as dificuldades dos alunos, ou seja, com toda a questão da inclusão dessas crianças.

De inicio a primeira questão que abordamos junto a Adriana é saber qual sua percepção com relação à inclusão da criança especial no ambiente regular de ensino. Adriana nos falou que este processo de inclusão não ser algo muito fácil, na medida que a primeira “aceitação” dessa criança teria que vir por parte da família. Ela fundamenta isso, pois a Dorilândia já teve casos de crianças em que os pais não aceitavam a deficiência de seus filhos, e por não aceitar estes mesmos pais consideram que seu filho terá o mesmo desenvolvimento cognitivo que qualquer outra criança, e faz cobranças tanto por parte da criança quanto por parte da escola.

Ela ressaltou que se estes pais não tiverem essa conscientização de que seus filhos possuem uma limitação, que precisam de apoio de outros profissionais, a escola estará trabalhando sozinha. A escola necessita desse apoio para de “uma certa forma” desenvolver seu trabalho, pois não seria válido essa criança ter um acompanhamento pedagógico durante um período se no outro período esta mesma criança estará em casa, sem ter um acompanhamento ou um trabalho específico para que possa ser desenvolvido sua limitação. Sabemos que esta sociedade é cruel, e que de modo geral essas crianças serão vistas e apontadas na rua com alguma limitação. Que elas terão que enfrentar sua limitação para que mais tarde venha concorrer algum campo de trabalho, e por isso esta criança precisa desse apoio familiar.

Houve um caso desse processo de rejeição que Adriana nos falou o qual chamou muito nossa atenção, que foi de uma criança que tinha uma deficiência mental, aparentemente esta criança não tinha nenhuma deficiência (a primeira instância), porém com o convívio era perceptível no comportamento, através do processo de aprendizagem dessa criança que esta tinha algum problema, porém a mãe escondeu este fato da escola no ato da matrícula. Apenas depois de muita conversa com a “avó” dessa criança é que foi relatado que a mesma tinha esta deficiência e que sua filha preferiu não falar. E esta mãe tomou esta postura, pois queria que sua filha fosse aceita no ambiente regular de educação e fosse vista tanto pelos coleguinhas quanto pela escola sem nenhuma limitação, pois a mesma não aceitava que sua filha precisava de um apoio não só da escola como também de outros profissionais. Mais tarde ela tirou essa criança da Dorilândia, e nas outras escolas que ela estudou sempre a equipe dessas escolas procuravam a Dorilândia para saber como foi o trabalho realizado com aquela criança, pois desde o porteiro até a professora tinham aquela criança como a “louquinha”, ou seja, a mãe continuava sem fornecer o acompanhamento profissional que esta criança necessitava para ter um certo desenvolvimento, seja físico e até mesmo cognitivo.

Adriana chama atenção para o fato de que o trabalho de incluir e adaptar esta criança é um trabalho que deverá ser realizado não só por parte dos professores, mas, sobretudo esta criança também precisa de apoio dos pais (que estes reconheçam as limitações de seus filhos) e, sobretudo que estas crianças necessitam de acompanhamento de outros profissionais.

Quanto a sua percepção e opinião acerca deste modelo de inclusão que é proposto às escolas, ela nos falou que não seria uma “expert” e que estaria fundamentada mais por sua prática. "Eu creio que a inclusão é muito bonita na teoria, mas na prática ela deixa muito a desejar" estas foram suas palavras. Então ela traz novamente exemplos práticos vivenciados na Escola Dorilândia, como de crianças em que eles trabalharam com o desafio de tentar incluí-las, uma vez que estas já haviam sido rejeitadas em outras escolas.

E cita o exemplo de uma criança que foi recebida pela escola anos atrás que é paraplégica e possuía uma síndrome com outras implicações físicas, e com limitação no cognitivo, e esta mesma criança tinha sido rejeitada em três escolas antes de vir para cá. Ela já havia estudado na escola do Sarah, no período que ela fez um atendimento mais rigoroso dentro do hospital, depois ela foi rejeitada em mais duas ou três escolas. Esta criança veio pra Dorilândia, cursou a primeira, a segunda, a terceira e a quarta série, e agora foi encaminhada para uma quinta série numa escola também pequena que pudesse dar esse tratamento diferenciado e que respeitasse o ritmo dessa criança. O diferencial desta criança especificamente é que existe um apoio muito grande da família, tendo inclusive durante o tempo que passou na escola uma pessoa que a assistia durante todo o período em que esta se encontrava nas instalações da Dorilândia. A mãe diz “não pense que eu acho que minha filha vai fazer vestibular, não pense que eu penso que minha filha vai tirar 10, que ela vai cursar todos os anos aprendendo tudo, que eu sei que ela não vai”. Mas é uma criança que participa de coral, coisa que antes ela não fazia, ela dança na cadeira de rodas, ela já abriu dois espetáculos em grandes teatros graças ao trabalho feito dentro de uma escola regular.

Então na verdade a inclusão proposta para as escolas tem um caráter muito mais social dentro de uma escola regular, na medida que se consegue dar conta das lacunas de aprendizagem na escola regular e para tal é necessário também um atendimento diferenciado. Por exemplo, uma criança com uma necessidade especial, uma surdez, a partir da quinta série ela vai precisar do interprete numa sala regular, para que ela tenha uma educação regular ela precisa deste profissional, então é necessário esse apoio .Não só com a criança surda, mas com a criança com síndrome de Down é uma atenção que tem que ser diferenciada, porque quando você matricula uma criança na escola ela estará em sua responsabilidade. E durante o intervalo, o que é que essa criança está fazendo? Em que local ela está? Porque o professor está na sua sala, então quer dizer que toda a escola tem que estar envolvida.

Com esta introdução percebemos que é necessário uma mobilização da comunidade escolar inteira, e que a responsabilidade da inclusão desta criança não está apenas na figura do professor.

Outro ponto que procuramos questionar foi saber como iniciou na Dorilândia esse processo de inclusão, como foi que a escola começou a aceitar pessoas com deficiência? Apesar de saber que existe uma lei que é a Lei de diretrizes e Bases da educação Especial em que as escolas regulares têm que estar com as portas abertas para atender. E nesta Lei é perceptível que existe falhas terríveis, porque o próprio Estado que deveria estar com as portas abertas para atender essas crianças, não cumpre seu papel. A verdade é essa. Se você percorre as escolas, tem escolas regulares públicas que têm uma sala apenas para as crianças surdas, então ela está tendo uma sala diferenciada e não está incluindo, ela não está inserindo.

Contudo, diante do que Adriana relatou, podemos perceber que a realidade é que estas crianças estão apenas dentro do ambiente escolar e não no processo de inclusão. Por outro lado, temos que considerar que esta postura não é de maneira generalizada, na medida que conhecemos trabalhos de escolas públicas como Colégio Estadual Raphael Serravale, que procuram fazer esta inclusão, exemplo disto é que o Serravale faz um trabalho só para surdos, ele verdadeiramente inclui. Eles não possuem interprete em sala, mas há uma sala de apoio que todos os dias eles ficam no turno oposto para cobrir as necessidades. O déficit é não possuir o interprete em sala, que é um profissional essencial para estas crianças surdas.

Dentro deste contexto, Adriana nos relatou que recentemente eles (os professores da Dorilândia) foram numa escola, a APADA que trabalha com surdos e o pessoal falou de um pai que tem um poder aquisitivo muito bom, e este disse “eu vou matricular minha filha na escola tal, (uma escola particular muito boa aqui em Salvador) e eu vou dar o que vocês me disserem que precisa, todo apoio além da mensalidade escolar eu vou dar” então foi contratado interprete, um material diferenciado, e aí a diante. Então tudo parte da família e existe um custo para isso.

A partir disto levantamos a questão de que para uma a escola se propor a fazer um tipo de trabalho desse de inclusão ela tem que estar toda preparada com profissionais capacitados para estar dando essa assistência.

E Adriana complementa trazendo resposta a nosso questionamento inicial, de como foi que iniciou a aceitação dessas crianças dentro do espaço Dorilândia, de quem foi essa idéia de começar um trabalho de inclusão. Então ela nos apresenta a realidade Dorilândia, na medida que eles começaram a serem indicados por terapeutas, por psicólogos, por psicopedagogos que atendiam algumas crianças e viam um trabalho que a Dorilândia realizava; a Dorilândia ela tem um afetivo muito bom, é uma marca da escola essa afetividade e não é uma coisa que é imposta, é uma coisa que está no ar, que acontece. Ou seja, eles se envolve muito com as pessoas que trabalham lá. E não só com os que trabalham lá, mas também com os que estão no ambiente da escola, está na atmosfera mesmo. E ela não tem uma explicação concreta para esta afetividade, então, ressalta que a Dorilândia é uma escola muito afetiva mesmo! E ela coloca que por conta dessa afetividade, desse acolhimento, desse carinho que passa, desse cuidado com a formação, começaram a ter algumas famílias os procurando por conta disso. E então veio essa criança da qual já relatamos, que tinha essa síndrome e era é paraplégica, que foi um dos primeiros casos que a Dorilândia trabalhou para a inclusão. O que é perceptível na estrutura física da escola que eles não tem esta preparação estrutural, como por exemplo: rampa na escola, e essa mãe foi até eles mesmo assim!... Esta criança tinha de subir as escadas todos os dias, então a cadeira de rodas era carregada por um funcionário para que ela subisse; na aula de educação física descia a cadeira de rodas. É um constrangimento, mas foi assim a adaptação possível para atendê-la. Por que o carinho, o acolhimento, a inserção dessa criança estava muito acima do que a condição de uma rampa. E neste contexto o que seria essencial para que aquela criança estivesse dentro daquele ambiente escola que era a “rampa”, esta estrutura essencial passou despercebida. O que eles precisaram foi a princípio ter uma pessoa de casa (do convívio particular desta criança) que estivesse na escola todo o período de aula, esta pessoa acompanhava essa aluna por essas quatro horas. E esta pessoa ficava no ambiente da escola por uma questão que se precisasse trocar uma fralda ela só aceitava essa pessoa, era uma criança extremamente insegura e tudo isso foi aberto, existia uma parceria da família e da escola das limitações dessa criança.

O primeiro passo para a inclusão é a família ter consciência das limitações que a criança possui, ou seja, a família reconhecer até onde seu filho pode chegar, o que é que é preciso fazer para que seu filho avance? Então depois desse acolhimento, dessa lucidez da família em relação ao caso em não negar esse problema, não negar essa necessidade de inclusão é que a escola deve ser procurada. E neste contexto não apenas a escola regular.

Adriana relata o seguinte, que o que é visto é que se possuir uma criança que tem uma necessidade especial, esta criança precisa de outros acompanhamentos, como por exemplo, do aluno que eles tem matriculado na Dorilândia com síndrome de Down, na segunda série num turno ele está numa escola regular, e no outro turno ele está em casa ou ele tem o apoio de um fonoaudiólogo? Ou ele tem o apoio de uma fisioterapia por causa dos tonos muscular? Ou ele tem o apoio de uma psicopedagoga que trabalhe com ele, aquilo que a escola está propondo, porque o que é visto é que o pai na maioria das vezes trabalha o dia inteiro. Então o grande questionamento é saber se esse apoio é dado no turno oposto. Muitas vezes não é, então o que é perceptível é que ele está matriculado numa escola regular, mas não existe um apoio por parte da família.

Então, Izabela levantou um questionamento fazendo um link com a disciplina de currículo com o texto de Santomé (1998) que traz a questão da globalização e interdisciplinaridade, e este texto fala como as escolas tratam as diferenças dos grupos étnicos, das diferenças mesmo. Então nosso questionamento é saber como isso é trabalhado e tratado entre os alunos, dessa aceitação com o “diferente”.

E então Adriana nos falou que a Dorilândia possui em diferentes séries projetos, ou seja, que eles trabalham com a pedagogia por projetos, então em diferentes séries são desenvolvidos projetos que vão levar as crianças a refletir, a estar em contato com leitura com situações onde as diferenças sejam evidenciadas e que elas percebam a necessidade do respeito por essa diferença, seja a diferença pela cor de cabelo, na cor da pele, no caso as crianças com deficiências físicas, e ai por diante.

É evidente que a depender da série, do grupo que esse projeto é proposto, existe um aprofundamento maior em relação às discussões, aos textos que são lidos, a proposta de trabalho, mas só que o que eles percebem é que por mais que você faça todo esse trabalho na escola, essa questão de se aceitar o diferente é muito difícil por uma questão familiar, porque muitas vezes o diferente não é aceito pelo adulto pelos pais, então a criança já vem com isso internalizado, e isto passa a ser uma questão de formação, de educação, e hoje as escolas têm enfrentado um problema sério de falta de educação, de falta de limite, na medida que as famílias realmente estão se preocupando muito com o “ter” e menos com o “ser” isso é uma coisa mundial, ou seja, o homem de maneira geral; hoje o homem se preocupa em ter e não em ser, o ser ficou em segundo plano, na selva de pedras. O que é visto com essa questão, é que esses valores de tradição, de respeito ao próximo ele não é respeitado, e ela ressalta que nós estamos discutindo questões de diferença de cor, de diferença racial, e o gordo? E aquela pessoa que tem o cabelo mais crespo?Que usa óculos, um óculos com um grau muito alto ela já sofre com a discriminação. Neste ponto nós já entramos na problemática das discussões que são realizadas com relação a todas as pessoas que fogem do padrão.

Adriana ressalta que se hoje você fugir do padrão você já é discriminado, infelizmente a pessoa é discriminada mesmo. A verdade é que se você estuda muito você é uma pessoa culta você já é descriminada, isso é na infância e na adolescência e isso vai se tornando mais cruel ainda. Ela considera isso uma “bola de neve”, na medida que estamos num momento em que a escola não pode perder de vista o seu papel que é educar que é formar, e estamos lidando também com uma questão de ter que educar coisas corriqueiras, coisas diárias, como, por exemplo, dar um “bom dia!”, como você pedir um “por favor!”, como você respeitar o adulto que esta na sala de aula, o professor, pois a questão do “ter” é que está evidenciado, uma vez que as pessoas consideram que porque esta pagando por algo tem direito a tudo,ou seja, é evidenciado que: “eu quero porque eu pago, se você não me der isso eu não vou pagar a escola”, e tudo está muito em cima do valor do ter, do poder.

Um outro ponto que procuramos abordar é sobre a preparação do professor para esta questão da criança. E então, Adriana nos falou que na medida que eles começaram a receber crianças com necessidades especiais, e aí essas crianças que tem essa síndrome e que tem uma limitação cognitiva, que possui essas questões mentais, de confusão mental, traços psicóticos, crianças com Síndrome de Down, crianças hiperativas, que tem que ser incluídas numa sala respeitando seu ritmo de aprendizagem, crianças com déficit de atenção, crianças dislexas, que tem que ter uma atenção diferenciada na hora de você estar verificando aquilo que a criança realmente aprendeu, então é preciso relevar muita coisa.

Todos esses casos citados são casos de inclusão. A escola começou a realizar grupos de estudos, trazendo profissionais que conversassem com os professores, dessem indicação de leitura, livros, que pudesse observar se eles estavam seguindo um caminho correto, etc. E aí ela coloca muito seu posicionamento pessoal, com relação às escolas regulares que estão iniciando esse trabalho de inclusão, e está recebendo esta criança com algum tipo de necessidade especial, que estão realizando um trabalho em cima do que acredita ser melhor.

Uma vez que não existe uma receita até agora, não existe diretrizes traçadas que vão orientar o trabalho com essa criança, por que são varias as inclusões, vários estabelecimentos de ensino e vários profissionais, é impossível você dar conta disso e não pára, é um mês atrás do outro e se não for acolhida aquela criança, não for feito nada por ela, essa criança terá dois caminho: ou ela vai ser passada por uma série sem ter adquirido habilidade mínima, ou ela vai passar ainda com lacunas e então uma hora isso vai estourar.

Ressaltando a questão da interação entre as crianças, com os outros alunos, procuramos saber quais eram as dificuldades maiores que eles perceberam? Então Adriana nos falou que em relação às crianças de maneira geral existe uma aceitação maior, a aceitação menor é por parte dos adultos, da família, como ela tinha relatado. Por parte das crianças eles percebem aquele carinho, aquela preocupação para que aquela criança não se machuque! E ela cita fatos presenciados tais como: ”não faça isso com ele não! Por que ele não sabe direito o que ele está fazendo”, “não faça assim não, assim esta errado”, é perceptível o querer acolher, querer acompanhar em determinadas situações, ou seja, eles percebem muito isso nas crianças, uma vez que eles estão numa idade em que isso ainda é favorável. Porém é evidente que existe todo um trabalho de base, que a escola começa a trabalhar essas diferenças.

E neste sentido, Thalita trouxe uma reflexão muito relevante, que é a importância dessa inclusão, na medida que esses outros futuros adultos já não vão discriminar como nós, sociedade em geral, como nós hoje fazemos. E que esses futuros adultos vão ter mais respeito, eles vão saber que eles podem conviver, que estas pessoas não são tão anormais assim, que ele não é doido, que ele não é maluquinho, ele só tem uma deficiência.

Adriana ressalta que dentro da escola você percebe isso, mas o grande paradoxo está no ambiente fora da escola, no convívio social fora do ambiente escola, porque ela não consegue ver cenas de uma criança deficiente que está sendo convidada pra ir para outra casa, como é que ela é nas festinhas, as crianças brincam com ela? Porque os interesses são outros, então isso não existe e então torna-se muito difícil.

Trazemos também a questão da aceitação dos pais, ou seja, procuramos saber qual é o trabalho que é realizado com os pais da Dorilândia para que seja trabalhados com eles essa questão da deficiência, se existe palestras, encontros, etc. E aí ela nos falou que a escola desenvolve ciclos de palestras, e neste ciclos de palestras procuramos trazer profissionais que também abordem este tema importante, mas essa questão não deixa de ser algo complicado, na medida que quando é oferecida uma palestra, às vezes temos trezentos pais e o número de pais que participam dessas palestras é insatisfatório, chega a vir cem pais. A escola tenta aproximar, esclarecer, porém a realidade é de um público muito pequeno.

O interessante é que por fim buscamos que a Adriana fizesse um fechamento para terminar esta questão da inclusão como um desafio, e aí teve muito mais conversa do que fechamento, uma vez que ela nos mostra a inclusão é um desafio, e este desafio está para os educadores, e este ponto ela coloca que sendo esta instituição uma escola particular, obviamente eles não tem incentivo por parte do governo, e neste sentido são eles próprios enquanto educadores que estão em busca dos recursos, os estudo para que de fato venham estar realizando a inclusão, e chegam até a situação de encontrarem casos que o resultado final é não conseguir a inclusão, e um exemplo que Adriana coloca é da criança com problemas psíquicos, que esteve com a Dorilândia até a quarta série, ela considera que será muito difícil ela continuar numa outra escola, mesmo sendo uma escola grande, pois o trabalho realizado pela equipe da Dorilândia para tentar incluir esta criança foi um desafio muito grande, na medida que esta criança requisita atenção total em todos os momentos, era uma criança que não podia ficar sozinha um minuto sequer, pois corria-se o risco desta agredir outra criança (seja perfurando com uma caneta, seja enforcando, batendo, mordendo) e na medida que estas crianças estão inseridos naquele ambiente com intuito de inclusão, a escola também precisa zelar pelo bem estar das outras crianças. Neste sentido tomando como exemplo esta criança a escola passa a ter limitações, pois terá que rever quais casos esta instituição poderá incluir.

Então Adriana fala que pelo conhecimento dela, existem escolas que já limitam a quantidade de crianças com algum tipo de deficiência por sala, exemplo, existe escolas que quando recebem crianças com síndrome de Down, limitam pelo menos uma criança por sala. Este fator da inclusão em se tratando de escola regular, é um fator que ainda deixa muito a desejar, e ela fala que não conhece nenhuma escola baiana que esteja fazendo um trabalho de inclusão visando à interação, o social e o cognitivo (a aprendizagem), neste ponto as escolas estão ainda por assim dizer “engatinhando”.

Thalita traz como referência algumas escolas que trabalham com esta inclusão no Sul do país, em que alguns alunos com algumas deficiências conseguem chegar no grau de instrução por assim dizer até o Doutorado, é claro que isto não é um fato visto por todos, e sim com algumas exceções, mas o que é relevante é que aos poucos estão conseguindo atingir a alguns. E Adriana coloca que o grande empecilho por assim dizer, é que mesmo as escolas estarem “engatinhando” neste sentido da inclusão, elas esbarram-se com a Lei, uma vez que esta não é muito clara e deixa muitas lacunas. Então o que encontramos nesta Lei, ao mesmo tempo passa a ser a favor e contra a escola. Quando nos remetemos para a questão da avaliação, como seria a avaliação dessa criança segundo a lei? Estaria baseado em que, para avaliar e aprovar esta criança? Pois no resultado final e baseado na Lei e o MEC exige uma nota, um conceito de avaliação baseado em nota ou não! Pois na medida que é aprovado esta criança anos após anos, para apenas dizer que ela cursou o ensino fundamental. E no final do ensino fundamental é perceptível que às vezes esta criança não consegue escrever nem uma letra, então será de primeira instancia questionado o que esta criança aprendeu neste processo de ensino-aprendizagem. E a escola não poderá de maneira alguma dizer que esta criança, por exemplo, aprendeu a conviver com o outro, com as diferenças, pois não é este a função esperada da escola. São nestes casos que é preciso haver estudo melhor acerca de cada caso, pois esta criança provavelmente precisará de profissionais voltados para ela, um currículo adaptado, num grupo menor, com material apropriado para sua necessidade.

Nós pedimos que nos fossem fornecidos matériais em que pudéssemos relacionar esta adaptação do currículo e do projeto pedagógico da escola para estas crianças, coisas do tipo (atividades, livros, provas) enfim, algo que conseguíssemos identificar essa adaptação.

Adriana diz que eles possuem um caso de uma criança com síndrome de Down que está na segunda série, nesta série existe uma adoção de livros diferentes para esta criança, são livros que são adaptados em letras bastão(na medida que esta criança só entende este tipo de letra), as atividades para esta criança são digitadas todas em letra bastão, e as atividades de matemática que são propostas no livro que eles trabalham com ela, não tem nada haver com livros que são propostos para as crianças desta série. Pela idade cronológica uma criança de onze anos, ela já não era para estar na segunda série, mas é uma criança que já lê, porém lê com muita dificuldade, ele lê como uma criança do grupo seis. Então questionamos porque este estaria nesta série, e Adriana nos disse que este tinha cursado o grupo seis no ano anterior, e este é o estágio que ele já conseguiu desenvolver. No sentido de desenvolvimento cognitivo desta criança com relação a uma criança “normal”, poderíamos dizer que na medida que uma criança normal consegue aprender a leitura em um ano, esta criança com deficiência de Down chega a levar três anos. Esta criança especificamente esta inserida no grupo, ela é aceita no grupo, porém é um desafio para ela mesma, pois cada ano ela terá um professor diferente, com perfil deferente que terá um novo desafio para o trabalho com esta criança diferente. Neste contexto do desafio, nos surgiu um outro questionamento: por que seria complicado e difícil aceitar a qualquer criança com necessidade especial? Adriana fala que para o ritmo da escola, do processo de ensino-aprendizagem, nem todos os desafios eles tem condições de aceitar.

Então procuramos saber como é que este professor trabalha com este desafio, uma vez que este tem uma turma que também precisa da atenção deste e tem uma criança que precisa de atenção redobrada. E exatamente isto que a escola esta tentando trabalha e adaptar, pois tem professores que não estão conseguindo realizar este trabalho perfeitamente. Uma vez que se esta professora tira esta criança da sala, ou de uma atividade que os outros alunos estão desenvolvendo, esta não estará incluindo e sim excluindo. Contudo temos que considerar que estando ela desenvolvendo aquela especifica atividade, às vezes esta criança não esta entendendo o que esta sendo feito. Neste ponto é que questionamos se seria bom mesmo para esta criança estar incluída neste grupo, ou seria importante ela estar nessas horas que está na escola, está voltada para atividades que ela é capaz de desenvolver, e que leve esta a avançar, do que ela esta ouvindo conteúdos que não leve a avançar, e que está muito além do nível de compreensão dela, ou até que esta esteja manifestando nela outras atividades.

Adriana diz que para a família e para mãe o importante é saber que esta criança está matriculada numa escola regular. E com isso continuamos a afirmar que o primeiro preconceito e descriminação começa por meio da família. Na opinião particular de Adriana, ela diz que se tivesse um filho com síndrome de Down, por exemplo, ela não teria muita certeza que matricularia seu filho numa escola regular, e estaria primeiro buscando todos os profissionais que dessem a garantia do avanço de seu filho e por ultima instancia iria investir num custo mensal alto numa escola regular. E aí ela ressalta que o que é visto é que se a escola não estar verdadeiramente preparada então seria desvantagem, porém a realidade é que nos deparamos com poucas escolas preparadas. E hoje o que é perceptível é que encontramos vários estudantes da graduação tendo em seu currículo disciplina que trabalham acerca da inclusão e da avaliação com discussões garantidas por excelentes teóricos, porém nos deparamos com um paradoxo, na medida que estudamos algo na faculdade e na prática encontramos fatos totalmente diferentes.

A realidade que encontramos na faculdade enquanto discurso de alguns teóricos é que a criança não pode esperar que a escola esteja preparada e depois dessa preparação possa vir a incluir, e sim que a criança tem que desde os primeiros momentos de sua vida escolar estar inserida no ambiente regular de ensino e a escola por intermédio da Lei, vai acompanhando essa preparação, para estar incluindo esta criança, porém o grande paradoxo é que nem a escola consegue chegar a esta inclusão esperada e nem a criança consegue o desenvolvimento esperado, e anos vão passando e tudo isso vai se criando uma “bola de neve” de problemas que não param de crescer.

É neste sentido que torna-se de uma certa forma preferível que esta criança venha estar sendo acompanhado por um profissional, para que seja verdadeiramente trabalhado seu desenvolvimento cognitivo, pois da maneira que esta a criança de maneira geral esta sendo prejudicada.

De maneira geral, o que podemos perceber nesta fase da entrevista e acerca deste tema é que Adriana trouxe sua experiência vivida na escola Dorilândia, enquanto escola que deseja realizar esta inclusão e muito de sua opinião particular enquanto coordenadora que tem a vivencia de crianças com estes problemas de adaptação e de inclusão. A Dorilândia nesse processo de inclusão procura fazer palestras com os pais, com profissionais da área, adaptar o currículo para esta criança por reconhecer suas limitações.

Em síntese o que podemos destacar nesta visita a escola e nesta conversa com a Adriana, é que de uma certa forma existe um esforço muito grande por parte deles em fazer essa inclusão, e não é algo que seja feito apenas por fazer para que a lei seja cumprida, mas que ainda podem se aprofundar infinitamente mais, por ser esse um assunto extremamente complexo e relativamente novo no ambiente escolar.

REFERÊNCIA:

- SANTOMÉ, Jurjo Torres. Globalização e Interdisciplinaridade: o curriculo integrado. trad. Claúdia Schilling. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998, pp.129-151.

-- ThalitaAraujo - 10 May 2006

Topic revision: r3 - 02 Jun 2006 - 17:53:58 - JoseildaSampaioDeSouza?
 
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